Chelsea faz gastança sem precedentes e eleva preços do mercado do futebol
   7 de fevereiro de 2023   │     5:00  │  0

O argentino Enzo Fernandez é a contratação mais recente e impactante do Chelsea nesta temporadaO argentino Enzo Fernandez é a contratação mais recente e impactante do Chelsea nesta temporada – (Foto: GLYN KIRK/AFP)

Até a última terça-feira, quando fechavam as janelas de transferências para as principais ligas europeias, apenas um meia havia superado a barreira dos 100 milhões de euros numa única negociação: o francês Paul Pogba, que foi da Juventus para o Manchester United por 105 milhões de euros. Essa marca foi pulverizada pelo Chelsea, num investimento assombroso que ultrapassou os 329 milhões de euros (R$ 1,83 bilhão) e terminou com a chegada de Enzo Fernández, do Benfica, por 121 milhões (R$ 672 milhões).

Este é mais um (e talvez o maior) exemplo de como os novos donos dos Blues, o americano Todd Boehly e o iraniano Behdad Eghbali, têm operado no mercado de transferências. Algumas semanas após fechar a compra do clube londrino (em maio passado), os empresários mergulharam de cabeça no frenético mundo das negociações. De cara, investiram 281 milhões de euros, gastos em nomes jovens como Fofana e Cucurella, mais os experientes Koulibaly, Sterling e Aubameyang. Em setembro, demitiram Thomas Tuchel e trouxeram o técnico Graham Potter, que se destacava pelo Brighton.

Enquanto o time vive uma temporada instável, longe da zona de Champions e eliminado das copas domésticas, uma estrutura de futebol vinha sendo montada nos bastidores, sob a expectativa de que os donos ficassem mais tempo nos EUA. Mas o que se viu foi justamente o contrário: Boehly e Eghbali centralizaram ainda mais o seus papéis nas negociações.

Se nem todos os reforços deram o retorno esperado, os empresários tentam “corrigir” com ainda mais cifrões. Além de Enzo, chegaram, entre outros, Andrey Santos (ex-Vasco), João Félix, Badiashile e Mudryk, todos nomes jovens.

Mudryk, sensação ucraniana, foi contratado em negociação cinematográfica. Eghbali pousou de surpresa de jatinho no mesmo resort em que estava Sergei Palkin, presidente do Shakhatar Donetsk, na Turquia. Ali, interceptou uma negociação já avançada com o Arsenal.

Para sustentar a gastança, os Blues usam habilmente a amortização, que no mundo contábil, os permite custear, em balanço financeiro, os valores totais de transferências divididos nos anos de contrato dos atletas em “parcelas”, favorecendo a conta de despesas anuais e evitando problemas com fair play financeiro.

É uma estratégia que envolve riscos monetários e esportivos. O principal deles está na gestão de ativos do elenco. Se no futebol é comum celebrar contratos de dois a quatro anos de duração, o Chelsea de Boehly e Eghbali faz acordos de cinco a até oito anos — casos de Enzo e Mudryk, que assinaram até junho de 2031. “Parcelas” menores, mas um risco multiplicado em ter jogadores com altos salários sem garantia de sucesso ou valor de revenda por quase uma década.

No campo dos negócios, ostentar tamanho poder financeiro certamente elevará os pedidos de clubes vendedores, não só ao Chelsea, como a toda a rica Premier League. Órgãos de controle financeiro e outras ligas estão de olho nas manobras e no financiamento de bilionários a clubes ingleses.

— É realmente perigoso que este mercado esteja dopado, inflacionado, como tem acontecido nos últimos anos na Europa, porque isso pode colocar em risco a sustentabilidade do futebol europeu — disse Javier Tebas, presidente de La Liga, em declarações reproduzidas pela AP.

Os números mostram que de fato há disparidade: sozinhos, os clubes da Premier League investiram 870 milhões de euros nesta janela, quase o triplo das ligas de Itália, França, Espanha, Alemanha e Portugal juntas.

Arivaldo Maia com Redação do EXTRA