Participação de elenco na decisão da troca de comandantes divide opiniões dentro do Botafogo
   6 de outubro de 2023   │     15:00  │  0

Lucio Flavio em treino do Botafogo no CT LonierLucio Flavio em treino do Botafogo no CT Lonier — (Foto: Vítor Silva/Botafogo)

Além de externarem insatisfações com Bruno Lage, jogadores também participaram da indicação para Lucio Flavio e Joel Carli assumirem como interinos.

“É para frente que se anda”. Esse é o lema do Botafogo após a confirmação da demissão de Bruno Lage e da efetivação do ex-auxiliar técnico Lucio Flavio como treinador interino. Ontem, o português foi ao CT para se despedir de jogadores e funcionários e desejar sorte ao clube na luta pelo título brasileiro.

Na sequência, o novo, porém já conhecido comandante, deu início ao seu trabalho ao lado de Joel Carli, ídolo e assistente.

A promoção de Joel Carli, que foi contratado pela diretoria da SAF como Especialista de Formação e Transição nas divisões de base, e até mesmo a escolha por Lucio Flavio, teve participação direta dos jogadores do Botafogo.

Na mesma reunião que externaram para John Textor a insatisfação com Lage — a paciência do grupo, que já estava minada, terminou com a ida de Tiquinho Soares para o banco de reservas contra o Goiás depois do camisa 9 participar dos treinamentos entre os titulares —, alguns atletas, entre eles os líderes do elenco, indicaram a aprovação dos dois, principalmente no caso do recém-aposentado zagueiro argentino.

A participação dos atletas no movimento que originou a saída de Lage e a chegada da dupla dividiu opiniões. Tiveram os que trataram com naturalidade e até admiração o fato dos jogadores se envolverem num processo tão importante do clube e assumirem a responsabilidade na luta pelo título. Afinal, o trabalho com o português, de fato, não era bom e estava afetando diretamente a trajetória da equipe no Brasileirão.

Por outro, também no clube, há quem questione se é saudável que a voz dos atletas, que, na hierarquia, estão abaixo da diretoria e do treinador, tenha tamanha importância. Afinal, antes da entrada do elenco na jogada, a ideia da direção da SAF era blindar e manter Bruno Lage, embora já tivessem externado para o português a insatisfação com os resultados, atitudes controversas como a na coletiva contra o Flamengo, e as escolhas impopulares, principalmente a que colocou Tiquinho no banco contra o Goiás.

No fim das contas, John Textor optou por tentar manter a união com os jogadores e pela alternativa caseira.

Ainda assim, também ficam no ar questionamentos em relação ao ambiente e a liberdade que o próximo treinador, seja ele Lucio Flavio ou outro que o clube possa vir a contratar em definitivo no futuro, terá para tomar decisões.

Essa já era, inclusive, uma preocupação da cúpula de futebol alvinegra antes mesmo da demissão de Lage. Por mais que não tenham concordado com a ida de Tiquinho para o banco, os diretores não queriam passar o recado de que a saída do comandante teria sido por fazer justamente o que foi contratado para, que era tomar decisões sobre o time. Um dos argumentos utilizados internamente era de que poderia passar uma imagem negativa para possíveis sucessores.

Em nota enviada ao GLOBO, o Botafogo afirmou que a decisão “se deu através de decisão construída entre John Textor e o Departamento de Futebol, não sendo um pedido direto dos atletas”. No anúncio oficial, após ressaltar o período de dez jogos de invencibilidade do português no alvinegro, o clube disse que “os últimos resultados não foram os esperados”.
Interinos respaldados

Ainda que o anúncio dos nomes seja como técnicos interinos, o Botafogo não buscará soluções externas no momento. Sobre a semana de treinamentos e o jogo contra o Fluminense, é certo que os dois comandarão os trabalhos, com Lucio Flavio assinando a súmula como treinador principal. O que acontecerá depois ainda é uma incógnita.

O Botafogo só pretende buscar um novo treinador se o andar da carruagem da dupla pedir. Caso consigam a volta dos bons resultados e a avaliação de que são o suficiente para o time buscar o título, a tendência é que Carli e Lucio Flavio sigam até o final do Brasileiro no comando. Um novo treinador só viria em 2024.

Mas o clube não se fecha numa só ideia: se o entendimento nas próximas semanas for que um novo treinador é preciso, Textor irá atrás de um novo nome, seja só para a reta final da temporada ou para o futuro do projeto.

Arivaldo Maia com João Pedro Fragoso e Thales Machado – EXTRA – Rio de Janeiro