Da morosidade do Estado às batalhas na Justiça, o cansativo imbróglio Maracanã
   20 de agosto de 2023   │     1:30  │  0

Estádio do MaracanãEstádio do Maracanã — (Foto: Domingos Peixoto)

Clubes brigam pelo direito de faturar com a ‘galinha dos ovos de ouro’ que pertence ao erário.

A cansativa batalha de liminares pelo uso do Maracanã produziu esta semana mais um capítulo deprimente para a história do futebol carioca. Mas entendo a disputa pelo equipamento público construído em 1950 para abrigar as torcidas dos quatro grandes clubes do Rio de Janeiro. O difícil é aceitar a morosidade ou a falta de interesse do Estado em encaminhar uma questão tão simples.

O conflito entre os clubes é fácil de entender. É que com o surgimento do plano de sócio torcedor e o avanço do marketing esportivo aquele “elefante branco” que por anos serviu como cabide de emprego do Estado transformou-se em 2019 na galinha dos ovos de ouro de Flamengo e Fluminense, sem nunca deixar de ser um patrimônio público.

E aí está o problema, ainda longe de uma solução que agrade a todos. O edital de arrendamento provisório, feito pelo governador cassado Wílson Witsel, foi vencido pelo consórcio formado pela dupla Fla-Flu. E de lá para cá tem sido renovado de seis em seis meses, sob ‘Termo de Permissão Onerosa’. Já naquela época, o Vasco contestava o processo licitatório na Justiça, alegando vícios de direito.

Pela concessão, o consorcio que representa a dupla pagou este ano R$ 14.250.519,80, assumindo o custo de manutenção, deveres e direitos. E dentre os deveres o compromisso de ceder o equipamento para outros clubes cariocas quando houvesse disponibilidade de datas. O problema é que o número de jogos da dupla ultrapassa o máximo sugerido por especialistas em gramados.

E é nisso que rubro-negros e tricolores se escoram para não cumprir o acordado na assinatura da carta compromisso do primeiro edital provisório assinado com o estado, lá em 2019. Descumprimento para o qual a Secretaria de Governo faz vista grossa, obrigando o Vasco (único interessado) a recorrer à Justiça, como fez esta semana, ganhando em primeira e segunda instâncias.

Relatório técnico do governo sobre a viabilidade do Maracanã apontou em 2020 potencial de receita anual na casa dos R$ 40 milhões, com gasto de manutenção estimado em R$ 26 milhões. Dois anos depois, só o Flamengo faturou R$ 548 milhões em receitas com o “matchday” – rubrica que inclui direitos de transmissão. Só no jogo contra o Grêmio, foram arrecadados R$ 8,7 milhões na bilheteria.

Essa, portanto, é a razão da briga entre Flamengo, Fluminense e Vasco. Os dois primeiros, que há quatro anos agem como dono do Maracanã, alegam que não têm como incluírem mais partidas no calendário. E o Vasco, que pleiteia doze datas para jogos de maior apelo, contrapõe com a alegação de que, como se trata de um bem púbico, tem o direito de utilizá-lo quando disponível.

Lamento, portanto, que um Estado tão carente de receitas como o chefiado hoje pelo governador Cláudio Castro seja o único a não saber explorar essa galinha dos ovos de ouro…

Arivaldo Maia com Gilmar Ferreira – Redação do EXTRA