“A zebra tem medo de Leão”; relembre último técnico que dividiu clube com a Seleção
   10 de julho de 2023   │     21:00  │  0

Emerson Leão durante passagem como técnico do Sport em 2000 — Foto: Reprodução/TV Globo

Emerson Leão durante passagem como técnico do Sport em 2000 — Foto: Reprodução/TV Globo)

Emerson Leão comandava Sport em 2000, quando assumiu uma Seleção em baixa com torcida e sob a sombra de duas CPIs; em passagem rápida, técnico barrou Romário e outros medalhões.

O técnico Fernando Diniz, a partir de agora, divide seu trabalho entre Fluminense e Seleção – como interino, até a chegada de Carlo Ancelotti. Mas isso não é novidade, e aconteceu pela última vez há 23 anos no futebol brasileiro. Em 2000, Emerson Leão, do Sport, recebeu o convite e dividiu atenções entre clube e a Canarinho, numa passagem marcada por medalhões barrados e resultados ruins.

Em 30 de setembro daquele ano, Vanderlei Luxemburgo foi demitido da Seleção em meio a momento conturbado. O Brasil havia sido eliminado nas quartas das Olimpíadas de Sidney e o treinador vivia problemas extracampo, sendo investigado pela Receita Federal por sonegação de impostos.

A seleção brasileira também tinha outras broncas. Duas CPIs aconteciam na época para apurar desde uma possível interferência da Nike na Seleção até suspeitas de crimes financeiros nas negociações de jogadores com clubes estrangeiros.

Todo esse cenário fez a CBF começar uma reformulação, nomeando Antônio Lopes como coordenador. E em 19 de outubro, Leão viajava do Recife ao Rio de Janeiro para bater o martelo como novo treinador – em meio a grande campanha na Copa João Havelange.

“Leão jamais será zebra”

A coletiva de imprensa de apresentação de Leão teve boas frases de quem demonstrava muita confiança. O podcast Embolada, em edição especial dos 20 anos daquela passagem do treinador pela Seleção, traz áudios da época (escute acima):
“Leão jamais será zebra, porque a zebra tem medo de Leão”
“Eu não tenho personalidade forte, apenas tenho personalidade”
“(Seleção terá) Futebol alegre, ofensivo, bailarino e com responsabilidade”

Depois de assumir o comando, o treinador seguiu no Sport, acumulando vitórias marcantes como 3 a 1 em cima do Corinthians, 4 a 3 no São Paulo e 6 a 0 no Atlético-MG, em pleno Mineirão.

– A minha responsabilidade no Sport não vai mudar em relação à minha convocação, ao meu chamamento à Seleção. A minha permanência será até o último dia em que estivermos na competição João Havelange – disse Leão.

Depois de se classificar em segundo lugar com três pontos atrás do Cruzeiro no Módulo Azul, o principal da competição, o Sport caiu nas quartas da Copa João Havelange para o Grêmio, em duelo parelho, após perder o primeiro jogo por 2 a 1 e empatar o segundo em 1 a 1, na Ilha do Retiro. Todos os gols do Tricolor foram marcados por Ronaldinho Gaúcho.

Emerson Leão em Brasil x Camarões, pela Copa das Confederações 2001 — Foto: Tony Marshall/EMPICS via Getty Images

Emerson Leão em Brasil x Camarões, pela Copa das Confederações 2001 — (Foto: Tony Marshall/EMPICS via Getty Images)

Medalhões barrados na “Era Leomar”

Àquela altura, Leão já tinha começado a caminhada na Seleção. O jogo de estreia foi uma vitória magra por 1 a 0 sobre a Colômbia, no dia 15 de novembro, com gol de Roque Júnior. Cumprindo suspensão do STJD, ele não figurou na área técnica.

Outro jogo depois desse, só em março de 2001, com o treinador já fora do Sport: derrota para o Equador pela primeira vez na história do confronto. Em abril, em casa, empate contra o Peru. Em meio às críticas, barrou medalhões como Cafu, Roberto Carlos e Rivaldo. Entre novidades, o volante Leomar, do Sport.

Para a Copa das Confederações no Japão e na Coreia, Leão fez uma lista sem Romário, voando no Vasco, e Rogério Ceni, na época titular da Seleção. Também sem jogadores do Corinthians e outros clubes da Libertadores ou fases decisivas de campeonatos estaduais.

– Quando nós saímos pra Copa das Confederações, o Lopes falou: “Você não pode convocar jogador do exterior (…) jogador de time grande (…) então, você vai começar com a terceira linha para baixo (…) Foi o meu erro. Eu deveria ter falado: “Até logo, muito obrigado”. E hoje a gente vê que, através dos tempos, a verdade aparece. E a verdade tá aí: negócios, negócios, negócios – disse Leão, em 2017.

O “futebol bailarino” não veio, e o Brasil perdeu a disputa do terceiro lugar da Copa das Confederações com uma derrota inédita para a Austrália por 1 a 0. A demissão chegou após 11 jogos no comando, junto a uma alcunha da imprensa. “A Era Leomar”, em referência ao volante convocado do Sport que, junto aos companheiros, não jogou bem.

Leomar e Djorkaeff durante Brasil x França, em 2001 — Foto: Robert Cianflone/ALLSPORT

Leomar e Djorkaeff durante Brasil x França, em 2001 — (Foto: Robert Cianflone/ALLSPORT)

 

Arivaldo Maia com Redação do ge — Recife