Clubes de SP fazem lobby para retomar venda de bebida alcoólica nas arenas
   25 de agosto de 2022   │     17:00  │  0

Clubes de SP fazem lobby para retomar venda de bebida alcoólica nas arenas (Foto: Divulgação/Corinthians)

Clubes de SP fazem lobby para retomar venda de bebida alcoólica nas arenas (Foto: Divulgação/Corinthians)

Foto: Lance!

Possibilidade do aumento de receitas é citado por dirigentes e especialistas; debate sobre a violência ainda é um entrave.

O lobby pelo retorno da venda de bebidas alcoólicas nos estádios de São Paulo voltou a ganhar força nos bastidores da bola nas últimas semanas. O desejo pelo retorno da “cervejinha” nas arquibancadas foi abordado em recentes encontros envolvendo presidentes de clubes e autoridades de entidades importantes, como a Federação Paulista de Futebol (FPF) e o Governo do Estado.

A necessidade de aumentar as receitas em dias de jogos é o principal argumento dos dirigentes. O assunto veio à tona em debate marcado pela questão da violência das torcidas.

A venda de bebidas alcoólicas nos estádios foi proibida no Estado há quase três décadas, pela Lei Estadual nº 9.470, de 1996, um ano depois da briga entre torcedores de Palmeiras e São Paulo, na decisão da Supercopa São Paulo de Juniores no Estádio Paulo Machado de Carvalho.

O lamentável episódio ficou conhecido popularmente como a “Batalha do Pacaembu”, com um saldo de 102 feridos e um torcedor morto.

Apesar de não haver uma relação direta entre álcool e violência nos estádios, outras unidades federativas também proíbem estritamente a venda de bebidas alcoólicas em arenas esportivas. É o caso de Rio Grande do Sul, Goiás e Alagoas, enquanto Bahia, Rio Grande do Norte, Espírito Santo, Pernambuco, Ceará e Minas Gerais possuem regras específicas para a comercialização e consumo, tanto dentro quanto nos arredores de onde a partida está sendo disputada.

“Do ponto de vista legal, a vedação ocorre a partir de leis estaduais e não há nenhuma barreira constitucional, por exemplo. O que aconteceu foi que alguns Estados proibiram a venda de bebidas alcoólicas nos estádios por vincular esse consumo ao aumento da violência no futebol. Na prática, me parece que poucos Estados brasileiros ainda mantêm a proibição, o que representa um indicativo ou uma tendência. Nesse ponto é importante dizer que cada Estado é livre para legislar sobre a matéria e, por isso, se vê todas essas diferenças apontadas nos critérios”, diz Flavio Ordoque, advogado, diretor jurídico na Biolchi Empresarial e professor de pós-graduação em Direito e Processo do Trabalho.

Em 2012, uma briga entre uniformizadas de Palmeiras e Corinthians terminou com dois mortos e outra solução radical foi tomada: os clássicos paulistas passaram a ser disputados com torcida única. Decisões como esta, porém, são questionadas por quem tem o futebol e o calor das arquibancadas como objeto de estudo.

Para Raquel Sousa, Doutoranda em Ciências Sociais e especialista em Policiamento e Segurança em Eventos Esportivos pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), somente proibir a venda de cervejas e destilados é “ilógica” no que diz respeito ao combate à violência pelo fato de os torcedores poderem beber antes de entrarem no estádio, sem produzir “efeito prático”.

“Se a ideia é ter torcedores sóbrios para ter menos dificuldade na segurança, não é proibindo a venda que vão conseguir isso. Em um mundo hipotético em que não haveria vendas de bebidas alcoólicas dentro e fora do estádio, isso não resolveria o problema da violência, pois os torcedores que vão com o estrito objetivo de brigar, não fazem o uso de bebida alcoólica, por ela afetar o reflexo”, explica.

“A liberação de bebidas nos estádios é favorável não só para os empreendimentos locais, mas também para os clubes em um conjunto. Com a liberação das vendas é possível prever um aumento de lucro em ingressos e aumento do consumo dos torcedores por partida, promovendo grande rentabilidade aos empreendimentos e consequentemente aos times. É um acordo valioso financeiramente para ambas as partes”, comenta Samuel Ferreira, CEO da Meep.

Em fevereiro deste ano, o São Paulo ingressou com uma ação pedindo o reconhecimento do direito de comercializar bebidas alcoólicas no estádio do Morumbi, mas o Órgão Especial do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) entendeu que a proibição era constitucional e seria mantida. Na ocasião, o desembargador Renato Sartorelli justificou que a liberação poderia aumentar os casos de violência entre torcidas apontando “efeito negativo do álcool sobre o comportamento humano”. Procurado, o clube preferiu não comentar o assunto.

Arivaldo Maia com  matéria do Estadão