Equilíbrio nas finanças é a salvação dos clubes brasileiros
   8 de janeiro de 2022   │     19:00  │  0

Momento torna obrigatória a boa administração, sem perder de vista os objetivos esportivos.

Futebol e negócios são termos com origens distintas, mas que cada vez mais têm se deparado com a necessidade de caminharem juntos. De se integrarem. O futebol é paixão, prazer, tem em sua essência a brincadeira dentro da competição. Os negócios, por outro lado, necessitam de planejamento, gestão, racionalidade. Frieza.

Muito se fala na ampliação das receitas dos clubes que, de maneira geral, vêm crescendo nos últimos anos. Segundo dados da Pluri Consultoria, a receita dos principais clubes brasileiros cresceu 63% entre 2015 e 2019, bem acima dos 31,06% da inflação acumulada.

Isso se deu em grande parte em função do crescimento dos valores dos direitos federativos dos jogadores, decorrentes da inflação e pelo fato de o futebol no mundo movimentar valores muito altos, dentro do que economistas chamam de “inflação de custos do negócio futebol”.

As despesas, no entanto, subiram em proporção maior no mesmo período, 87%, mantendo os clubes em permanente déficit. Isso muito em função também desta chamada inflação de custos do negócio futebol, em que um jogador recém-promovido da base chega a receber R$ 200 mil por mês.

CAIXA ÚNICO

Um experiente conselheiro do Flamengo, Ronaldo Gomlevsky, que tem acompanhado há pelo menos 20 anos as várias gestões no clube, inclusive fiscalizando as administrações, conta que, em geral, no futebol brasileiro o caixa do clube é único. Tal situação dá ao presidente e ao diretor financeiro grande poder de distribuição dos gastos.

“Clube de futebol é como qualquer atividade que tenha o objetivo de ser bem-sucedida. Paga-se em dia se há administração decente; se não, não se pagará em dia. Isso se tiver dinheiro. Depende do tipo de administração e do objetivo do clube. O Flamengo atual, por exemplo, tem uma situação distinta das outras equipes. Muitas vezes o clube pode comprar porque a torcida, de alguma maneira, paga como consumidor. Cada um tem de ver o limite de suas possibilidades, dentro de uma administração equilibrada”, afirma.

Neste sentido, cabe ao administrador do clube, no caso a diretoria, saber lidar com as despesas, para que elas não se tornem tão ou mais crescentes do que as receitas, segundo o executivo de futebol Francisco Ferreira, CEO da Ceperf (Consultoria de Excelência em Performance de Futebol).

“O Flamengo sofreu um choque de gestão e o clube se tornou autossustentável. Talvez seja o único que não precise se tornar um clube-empresa, pode se sustentar com um modelo associativo. Conseguiu atingir um patamar de receitas quase em nível de futebol europeu. Já os outros com grandes receitas, como Palmeiras e Atlético-MG, têm precisado de mecenas”, diz Ferreira.

Outros clubes tradicionais, como Fluminense, Botafogo-RJ, Santos, São Paulo, Grêmio, Internacional, Vasco e Bahia, precisam de uma reestruturação, já que as dificuldades financeiras os distanciam dos melhores resultados e, com isso, restringem os investimentos em elencos mais fortes.

É comum, nestes casos, alguns clubes buscarem recursos em empréstimos bancários, aumentando ainda mais as suas dívidas. Mesmo com alguns destes dirigentes procurando equilibrar essas finanças, os valores se tornam tão altos que a transformação em S. A aparece como a melhor opção para que essa ciranda seja interrompida, diz Ferreira.

Torcedores do Flamengo fizeram grande festa em 2019 – (Foto: Arquivo O Dia)

Blog com Eugenio Goussinsky, especial para o Estadão