‘Clubes deveriam decidir tudo e CBF apoiar. País está perdido’, diz Muricy
   11 de abril de 2021   │     21:55  │  0

Novo coordenador técnico do São Paulo, Muricy Ramalho encara um desafio completamente diferente na carreira. Não apenas por causa das dificuldades impostas pela pandemia do novo coronavírus, mas porque encontrou muitos problemas no Morumbi, como falta de dinheiro.

Nesta entrevista do Estadão, o ex-treinador aponta caminhos para tirar o time de uma fila sem títulos que já dura desde 2012 e diz que os clubes deveriam decidir tudo no futebol, e a CBF só deveria apoiá-los. Garante ainda que não tem lado na política e defende, com as informações que tem, que o atleta está mais seguro treinando e jogando, do que em casa fazendo churrasco com os amigos. Confira parte da entrevista:

Tenho claro desde o dia em que me convidaram para assumir o posto. Não tinha outro tipo de função para eu fazer. Minha área agora é ser coordenador técnico. Aceitei. Estava bem claro para mim o que deveria fazer desde o começo. Por exemplo, entrevistei dez técnicos antes de contratar o Hernán Crespo. Falei com técnicos uruguaios, portugueses, espanhóis… Esta é uma das minhas novas funções. Queria saber como eles trabalhavam, como faziam a preparação do time, o que tinham estudado na carreira, se conheciam o São Paulo. Tinha de checar tudo o que interessava ao clube naquele momento com aquele profissional.

O que mais, Muricy?

Eu tenho de dar suporte ao treinador, ajudá-lo a conhecer o jeito do clube, fazer com que ele conheça o São Paulo, estar com ele o tempo todo e fazer uma ligação de Cotia com a Barra Funda, das categorias de base com o time profissional. E também tem o meu trabalho com a diretoria. Converso todos os dias com eles e também com os jogadores.

Que avaliação você tem do Brasil no combate à covid-19?

É difícil falar de um assunto que você não tem autoridade, não domina. Mas entendo que estamos perdidos desde o começo. Veio o primeiro bicho e agora chegou o segundo (as variantes do vírus). Não se tem muito conhecimento de nada. Nada é 100% sobre a covid. Nenhum protocolo é 100% garantido ou seguro. Eu, por exemplo, não viajo com o São Paulo. É difícil para mim neste momento. Só se for de avião fretado. Mesmo assim, não tenho nada para fazer lá. Vou ficar no hotel comendo e bebendo. Não vou. Mas vou ao Morumbi. Isto é de clube para clube. O São Paulo é muito seguro e rigoroso nesse sentido. Tem muita preocupação com a covid e sua contaminação.

Qual é sua opinião sobre o Brasil?

A política do Brasil não funciona. Há muita corrupção. Eu sempre falei isso. Não gosto de política nem de políticos. Não tem cara bom. A maioria faz mal para o País. Não tenho lado. Se o Brasil entrasse num acordo, seria o melhor país do mundo. Era preciso ser correto com o povo e não usar o povo para se eleger. É tudo mentira o que eles falam. Eles cuidam deles próprios e da turma deles. Isto me irrita demais. Você vê lugares menores no mundo com mais condições… Eu sei disso porque viajei muito com o futebol. Isso de ter 20 milhões de pessoas passando fome me deixa maluco. A fome é a pior coisa do mundo, principalmente num país como o nosso. Mas é um País que só cresce à noite. Hoje são 20 milhões de pessoas passando fome. Amanhã podem ser 30 milhões. Cada um só pensa na sua turma. Eu ouço desde pequeno que o Brasil vai ser um país grande. Faz 50 anos que ouço isso. Todos que entram, com raras exceções, não fazem nada pelas pessoas. A fome só é combatida, em parte, por causa da solidariedade das pessoas e dos empresários. Isso é muito legal no nosso País. Mas acho que deveria ser o governo a distribuir alimentos para as pessoas, deveria distribuir comida. Os caras estão passando fome. Isto é terrível. Dá muita revolta você ver crianças passando fome no Brasil.

Blog com informações do ESTADÃO Conteúdo