Aos 90, Minelli vê técnicos brasileiros sem mercado
   15 de setembro de 2019   │     14:00  │  0

Rubens Minelli foi quatro vezes campeão brasileiro entre os anos 1960 e 1970Rubens Minelli foi quatro vezes campeão brasileiro entre os anos 1960 e 1970 (Foto: Bruno Santos/Folhapress)

Cansado das reclamações dos jogadores, Rubens Minelli resolveu não dizer nada. Passou 45 minutos calado. Se aquele time do Internacional, campeão brasileiro de 1975, achava que o esquema tático era rígido demais, podiam atuar como como quisessem.

No intervalo, o clube gaúcho perdia por 2 a 0.

“Vamos combinar uma coisa? Com a bola, façam o que vocês quiserem. Sem a bola, façam o que eu mando!”, pediu o treinador.

O placar final foi 3 a 2 para o Inter.

Em seu apartamento próximo à avenida Paulista, em São Paulo, Minelli se diverte ao contar histórias como essa. Às vezes ele perde a linha de raciocínio, mas as lembranças fluem, assim como as opiniões de quem passa os dias assistindo às partidas pela televisão. A última vez que esteve em um estádio de futebol aconteceu em janeiro. Foi homenageado pelo Palmeiras, o clube onde, meio sem querer, começou a carreira.

Quatro vezes campeão brasileiro por três clubes diferentes e revolucionário tático do futebol nacional, Minelli continua curioso. Todo esse interesse faz com que perca a paciência. Seja com a qualidade dos jogos ou com as queixas dos treinadores do país pela chegada de profissionais do exterior.

“O futebol está feio, não é? É uma mesmice muito grande. Sem falar na violência, falta de respeito. Aí você olha o futebol europeu e é tudo totalmente diferente. Veja os jogos do Campeonato Inglês. Parece que os jogadores estão lutando por um prato de comida. Aqui o atleta recebe a bola e não tem ninguém perto. Marcação é antes de o jogador receber a bola, não depois”, reclama.

“O problema dos técnicos brasileiros é que antigamente eles tinham mercado e trabalhavam no exterior. Hoje não tem mais. E para completar, os estrangeiros chegaram e estão na frente no Brasileiro”, lembra, citando o português Jorge Jesus, do líder Flamengo, e o argentino Jorge Sampaoli, do segundo colocado Santos.

Entre os campeões nacionais, apenas Vanderlei Luxemburgo e Lula (cinco conquistas cada) venceram mais do que Minelli, ganhador em 1969 (Palmeiras), 1975, 1976 (ambos pelo Internacional) e 1977 (São Paulo).

O técnico paulista pode ser apontado como o mais vencedor da história do futebol nacional a não ter dirigido a seleção brasileira. Ele era a unanimidade em 1977, quando Oswaldo Brandão, um dos seus mestres, foi demitido. Seu discípulo era bicampeão brasileiro pelo Internacional. Naquele ano, conquistaria o tri, mas pelo São Paulo. Era o nome mais comentado do país.

A então CBD (Confederação Brasileira de Desportos) escolheu o preparador físico Claudio Coutinho, que tinha pequena experiência como técnico, nenhum título conquistado e comandava o Flamengo. Minelli perdeu a chance de ir à Copa do Mundo de 1978, na Argentina.

Blog com Folha de São Paulo.