Mesmo com contabilidade criativa, Cruzeiro tem prejuízo e eleva dívida a mais de meio bilhão
   17 de abril de 2019   │     0:01  │  0

Logo depois de vender Arrascaeta ao Flamengo, interessado em tranquilizar a torcida em relação à saúde financeira do Cruzeiro, o vice-presidente de futebol Itair Machado foi ao Seleção SporTV dizer que as coisas estavam sob controle. Afirmou o dirigente que a diretoria da qual é protagonista tinha conseguido pagar de R$ 80 milhões a R$ 100 milhões em dívidas – número que o balanço financeiro celeste, quando publicado, confirmaria.

O documento ainda não foi apresentado ao Conselho Deliberativo, mas o GloboEsporte.com teve acesso à versão não auditada assinada pelo presidente cruzeirense, Wagner Pires de Sá, e pela contadora do clube. Em vez de reduzir o endividamento, como afirmou Itair, a diretoria o aumentou em R$ 136 milhões na relação com o ano anterior.

As dívidas são a consequência da mentalidade adotada pelo novo presidente, cujo primeiro ano à frente do clube foi completado em 2018. Diante de uma situação já muito ruim, deixada pelo antecessor Gilvan de Pinho Tavares, o novo presidente decidiu aumentar investimentos e custos atrás de bons resultados. Ganhou o primeiro título, da Copa do Brasil, com o elenco que herdou da administração anterior. E está disposto a arriscar tudo para conquistar outros títulos mais.

A parte positiva do alto investimento é que, com bons jogadores em campo, dirigidos por um excelente técnico, como é o caso de Mano Menezes, a expectativa da torcida vai às alturas. E o impacto disso aparece nas receitas. O Cruzeiro elevou praticamente todas as frentes: bilheterias, patrocínios, sócio torcedor, direitos de transmissão. A Copa do Brasil rendeu incremento de R$ 64 milhões na renda com tevê.

O problema, e isso acontece muito na história do futebol, é que as receitas adicionais obtidas pela estratégia agressiva raramente compensam os custos. No caso do Cruzeiro de 2018, não compensaram. O clube terminou a temporada com prejuízo de R$ 28 milhões, que poderia ter sido muito mais grave se não fosse a contabilidade criativa que seus diretores inventaram para contornar a realidade.

Mesmo com a contabilização de Arrascaeta, a diretoria não conseguiu ocultar a crise financeira na qual está o Cruzeiro. Para que se tenha uma ideia, dos R$ 520 milhões devidos, nada menos do que R$ 256 milhões têm vencimento em prazo inferior a um ano, portanto no decorrer da temporada de 2019. Mesmo que venda mais jogadores e ganhe novamente a Copa do Brasil, cuja premiação amenizou problemas, as dívidas, quando acrescentadas aos custos do cotidiano, são impagáveis.

A combinação de dívidas herdadas da administração anterior com dívidas feitas pela nova gestão, ambas ousadas, colocou o Cruzeiro no estado atual, em que tentará obter R$ 300 milhões emprestados no mercado financeiro para reestruturar seu endividamento. Wagner Pires de Sá e Itair Machado esperam que esse novo crédito lhes dê mais tempo, na esperança de que as receitas aumentem consideravelmente, enquanto prosseguem com a estratégia do vale tudo por títulos.

Blog com GloboEsporte