Secretária-geral da Fifa critica pedido para amenizar punição por homofobia
   15 de outubro de 2016   │     0:01  │  1

Os representantes da Conmebol tentaram convencer a nova secretária-geral da Fifa, Fatma Samoura, de que gritos homofóbicos e discriminatórios nas torcidas sul-americanas são uma questão cultural, conforme antecipou o GloboEsporte.com no dia 12. Pediram uma flexibilização das punições, que atingiram 11 federações, sendo cinco da América do Sul. E a resposta da executiva foi das mais duras. A mulher, negra e muçulmana, que trabalhava na ONU e que faz questão de usar essas características para deixar claro que já sentiu na pele o que é a discriminação, avisou que a tolerância para esse tipo de incidente é nenhuma. Questionada sobre a abordagem informal que ocorreu nesta sexta-feira, foi dura e disse que, mesmo que esteja na cultura de um povo esse tipo de ofensa, as pessoas precisam ser educadas.

Samoura disse que a decisão sobre punir ou não é do Comitê Disciplinar da Fifa, mas afirmou textualmente que esse tipo de ofensas não pode mais existir. A secretária-geral se disse a favor do diálogo, mas mandou um recado para as federações punidas: trazer educação.

– Eu não recebi nenhuma reclamação oficial, pessoas se aproximaram e pediram que a gente seja mais flexível em relação às punições. O que eu disse é que não é uma decisão minha. Temos um Comitê Disciplinar encarregado de avaliar a realidade e recomendar medidas. O que posso dizer é que precisamos que as pessoas sejam educadas, mesmo que esteja na sua história, na sua cultura, usar palavras não amigáveis contra o adversário. Isso tem de parar. Para a Fifa a tolerância é zero em relação à homofobia, discriminação racial e discriminação de gênero. Sanções não são o único caminho. Tendo experiência na ONU, sou a favor de diálogo. Se sanções fossem as soluções para todos os problemas do mundo, não estaríamos na situação que estamos hoje. A mensagem para os líderes das federações e da confederação que receberam essas multas é tentar achar uma base comum e trazer educação. Precisamos sensibilizar os torcedores para que tenham uma maior participação na cultura da diversidade e da aceitação – disse Samoura.

Existem 76 no mundo nos quais a homossexualidade é reprimidade por algum dispositivo legal, desde proibição a veto de demonstração pública. No caso Rússia, uma polêmica lei foi aprovada pouco antes da Olimpíada de Inverno de Sochi, proibindo propagando de cunho homossexual para menores de 18 anos. Um dos membros do Conselho da Fifa, o ministro do Esporte da Rússia, Vitaly Mutko, defendeu a lei em 2013 em entrevista coletiva:

– Queremos proteger nossas crianças contra a propaganda de abuso de drogas, alcoolismo e relações sexuais não tradicionais. Queremos que tomem suas próprias decisões quando crescerem.

Questionada sobre como pretende lidar com essas questões na Rússia e no Catar, sedes das Copas do Mundo de 2018 e 2022, Samoura explicou:

– Já estamos monitorando a situação na Rússia em relação às condições de trabalho da população e ao comportamento. Temos um programa bastante estrito para as duas próximas Copas do Mundo com indicações robustas do nível tolerância que a Fifa pedirá deles. Mais uma vez estamos promovendo o diálogo, incluindo com o comitê organizador no Catar. Queremos garantir que quando a Copa de 2022 terminar teremos uma sociedade mais aberta. Cada continente tem sua cultura. Nenhum é melhor do que o outro. É só uma questão de comunicação e educação. Vivemos em um mundo onde realmente temos de determinar parâmetros altos em termos de discriminação racial, de gênero, ou homofobia. A Copa do Mundo é a melhor ferramenta para fazer com que as pessoas abracem a diversidade. Toda sociedade tem algo a melhorar, e temos de fazer isso através do diálogo.

No último dia 4, a Fifa anunciou punições a 11 federações nacionais, incluindo a CBF, multada em R$ 71,7 mil pela conduta de torcedores na partida entre Brasil e Colômbia, em 6 de setembro, pelas Eliminatórias da Copa do Mundo de 2018. Houve gritos homofóbicos no confronto contra os colombianos, na Arena da Amazônia, em Manaus. As outras federações punidas por causa do comportamento de torcedores foram Argentina, Chile, Paraguai, Honduras, Peru, El Salvador, México, Canadá, Itália e Albânia.

A CBF também recebeu multa de 3 mil francos suíços (R$ 10,7 mil), por conta do atraso no reinício do jogo contra o Equador, no dia 1º de setembro. A punição mais pesada foi para o Chile, reincidente em manifestações homofóbicas da torcida. Já sancionada pela Fifa anteriormente, a seleção não poderá disputar o duelo contra a Venezuela, no dia 28 de março de 2017, no Estádio Nacional de Santiago, sua casa tradicional. Além disso, terá que pagar multa de 65 mil francos suíços (R$ 233 mil).

– Ser uma mulher africana, muçulmana, não acredito que vocês possam achar alguém mais discriminada do que eu. Se estou aqui hoje é porque a Fifa decidiu realmente internacionalizar o jogo. Vamos continuar a luta contra a discriminação – concluiu Samoura.

Texto: Vicente Seda / Globoesporte.com

COMENTÁRIOS
1

A área de comentários visa promover um debate sobre o assunto tratado na matéria. Comentários com tons ofensivos, preconceituosos e que que firam a ética e a moral não serão liberados.

Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião do blogueiro.

  1. ivaldobotelho

    Bom dia!

    “questão cultural”

    Nesse sentido, o grande problema da sociedade, principalmente, das “otoridades” é considerar determinadas coisas como normal, cultural e simples. O fato é que o mundo esta indo pelo caminho errada, e se a maioria não tomar providencias, a minoria vai estar sempre humilhando, degradando, badernando e esculhambando o seio da sociedade educada, e ninguém faz nada!

    Também podemos vê o comentário dos representantes como uma forma de humilhação, ou seja, eles podem estar achando que somos mesmo mal educados, estúpidos, grossos, primitivos e que a FIFA não deve se preocupar com isso, que não vai adiantar multar!

    Por outro lado, vc viu alguém da CBF reclamar na TV ou em Rádios condenando o comportamento da torcida? O problema também esta ai! O diretor tem que falar em publico sobre este tipo de problema, que isso gera mal estar e se paga multa, trazendo prejuízo para a entidade e para todos.

    Se eu fosse presidente de um time, por exemplo, do CSA/O MAIOR DE ALAGOAS, eu falaria nas rádios que não queria que os torcedores baderneiros fossem ao jogos e que cantassem musicas ofensivas com letras de putaria, até pq o estadio de futebol é um evento social, onde a maioria é de pessoas educadas, observem bem direitinho, a maioria no estadio é de pessoas educadas!!

    Veja o comentário que fiz sobre a torcida azulina no estadio do Volta Redonda!!

    Espero que tenha entendido meu raciocínio, um abraço!

Comments are closed.