Faz tempo que existe incentivo de um clube para outro. Os clubes não divulgam e muitas vezes fazem de conta que não sabem de nada
No amor, na guerra e no Brasileirão, vale tudo. Mais ainda em reta final de campeonato, com cinco times disputando o título e oito fugindo do rebaixamento. Entra aí o bicho-extra, incentivo financeiro para que um clube ajude outro com vitória ou empate. A prática divide opiniões.
— Isso sempre existiu. Não vejo grande problema. É um incentivo — argumentou no início da semana o técnico do Palmeiras, Wanderley Luxemburgo.
O treinador não diz se o Palmeiras, candidato ao título e à Libertadores, irá oferecer dinheiro para quem jogar contra São Paulo, Grêmio e Cruzeiro, por exemplo. Segue a regra geral: em público, jogadores, técnicos e dirigentes são categóricos em afirmar que bicho-extra não é com eles. Como no Flamengo, outro time da ponta de cima da tabela. O presidente Márcio Braga jura que não daria nem receberia dinheiro de terceiros.
— É um doping financeiro. Não me sinto confortável. Pega mal, não combina com profissionalização — critica.
Como se dá a operação:
— Um jogador ou dirigente do time interessado em pagar o bicho-extra procura alguém da equipe que irá receber. Pode ser diretor ou um atleta mais experiente e com liderança de vestiário, como o capitão do time.
— É feita, então, uma oferta de dinheiro por vitória ou empate.
— O capitão ou outro jogador com influência avisa os colegas no vestiário. A questão não vai a debate para ver se será aceita: a concordância é automática.
— Por vezes, o bicho-extra é de conhecimento dos dirigentes do time que irá recebê-lo. Até porque isso ajudaria a evitar um eventual calote.
— Se tudo der certo, o pagamento pode ser feito ainda no estádio, após a partida. Mas também acontece alguns dias depois.
— Há várias formas para acertar: dinheiro vivo, cheque e até transferência bancária.
— O capitão/líder do vestiário pega o dinheiro e o divide com os colegas. Há uma hierarquia nos valores, conforme o esforço em campo: quem jogou ganha algo como o dobro de quem ficou no banco ou entrou nos minutos finais. Aqueles que não foram relacionados também recebem, ainda que menos. É para todo o grupo.