40 anos sem Garrincha: onde e como a memória do ídolo é preservada
   22 de janeiro de 2023   │     21:30  │  0

Filha de Garrincha, Rosângela dos Santos posa em frente ao grafite do pai em escola de Pau Grande; cidade possui tour que passa por locais ligados ao ídoloFilha de Garrincha, Rosângela dos Santos posa em frente ao grafite do pai em escola de Pau Grande; cidade possui tour que passa por locais ligados ao ídolo – (Foto: Gabriel de Paiva)

Não é preciso muito esforço para esbarrar com algum Mané Garrincha. Uma pesquisa rápida no Rio de Janeiro, por exemplo, aponta duas creches públicas (Bangu e Marechal Hermes), uma escola municipal (Campo Grande), uma Vila Olímpica (Caju), dois Centros de Atenção Psicossocial (Santa Cruz e Tijuca) e uma praça (Inhaúma).

Pelo país, o mais famoso é o Estádio Nacional de Brasília, um dos palcos da Copa de 2014. Quarenta anos após a morte do ex-jogador (completados nesta sexta), é inegável que seu nome siga em alta. Mas e o homem por trás dele?

Com um fim de vida marcado pelo alcoolismo e pelo empobrecimento, Garrincha não deixou pertences catalogados (quiçá reunidos). Muitos itens que ajudariam a contar sua história se perderam. Ainda assim, sua memória é mantida viva. Em diferentes locais é possível conhecer sua trajetória e ter noção de seu tamanho no futebol.

Um exemplo, óbvio até, de onde isso ocorre é a sede do Botafogo. O local possui um tour através do qual o visitante pode conhecer a história do clube, com destaque para o futebol, e de seus ídolos, dentre os quais Garrincha ocupa papel de destaque.

No tour do Maracanã, o eterno camisa 7 também ganha holofotes. Além de sua pegada na calçada da fama, há outros objetos do ex-jogador, como um par de chuteiras e o uniforme utilizado na Copa do Chile, em 1962.

Para além das fotos, bustos e imagens tradicionais, é possível ter um contato mais próximo com Garrincha visitando Pau Grande. O bairro da cidade de Magé, na Região Metropolitana do Rio, se tornou famoso por ser a terra natal do ídolo do Botafogo e da seleção brasileira. E não esconde o orgulho.

São duas escolas (uma municipal e outra estadual) com o nome do filho ilustre, além de um ginásio poliesportivo e de um posto de saúde. No segundo semestre do ano passado, a prefeitura lançou um passeio guiado com o ex-jogador como tema. Acompanhado de uma guia turística, o visitante percorre as ruas do bairro e conhece alguns dos locais mais identificados com Garrincha.

Fazem parte do roteiro a casa onde ele passou a infância (e corria atrás dos passarinhos garrincha, que lhe deram o apelido) e a que viria a morar mais tarde, dada em 1962 pela fábrica local de indústria têxtil como presente pelo protagonismo na conquista da Copa do Chile.

O Esporte Clube Pau Grande é outro atrativo, assim como o gramado da Barreira, um campo encravado no meio da mata e no alto de um morro onde o ponta-direita jogava peladas antes e até mesmo durante a fama (obrigando o Botafogo a mandar um carro para buscá-lo quando não retornava ao Rio para os jogos) .

O passeio se completa com a igreja de Sant’Ana, na qual ele foi batizado, e a praça principal do bairro, que conta com um busto dele.

Quem já realizou este passeio foi o técnico do Botafogo, Luís Castro. Em maio do ano passado, o português fez questão de conhecer mais da história do maior ídolo do clube. No campo da Barreira, ele pediu para ficar um tempo sozinho. Por alguns instantes, contemplou o local onde Garrincha deu seus primeiros chutes na bola.

Por outro lado, a experiência também mostra como, em termos de estrutura e de bens, o legado de Garrincha ainda convive com a falta de cuidados. No pequeno memorial dedicado a ele no Esporte Clube Pau Grande são nítidos os problemas de conservação, principalmente pelo excesso de poeira e pelo estado dos troféus. Já a casa onde ele morou está à venda e fechada para visitação.

Artigo de colecionador

Um projeto tenta furar esta dificuldade de preservar sua memória nos tempos de hoje. O “Memorabília do Esporte”, especializado em itens para colecionadores, produziu uma série limitada de estatuetas do craque usando o uniforme do Botafogo. Pesando cerca de 1,2kg, produzidas em ‘pedra artificial’ e pintadas à mão, elas são licenciadas pelo clube e vêm com certificado de autenticidade. Segundo Samy Vaisman, co-fundador da marca, o produto atraiu o interesse não só de torcedores alvinegros, mas de amantes do futebol em geral.

 

Imagem de divulgação da HQ de Garrincha que será lançada este ano

Imagem de divulgação da HQ de Garrincha que será lançada este ano – (Foto: Divulgação / Memorabília do Esporte)—-Para este ano, ainda estão previstos o lançamento de uma HQ e de uma série de NFTs de Garrincha. Ambas em números limitados. A venda de todos os produtos gera royalties para os familiares do ídolo.— Nossa missão é resgatar histórias e eternizar feitos e ídolos. — afirma Vaisman. — Como país, não sabemos respeitar os ídolos, especialmente em vida. Garrincha é uma figura emblemática, um ídolo mundial que nunca teve o devido valor ou respeito com a sua história salvo em raríssimos momentos.

Maria Cecília dos Santos no quarto que transformou em memorial do pai Garrincha: luta para manter sua imagem viva
Maria Cecília dos Santos no quarto que transformou em memorial do pai Garrincha: luta para manter sua imagem viva – (Foto: Fabio Rossi)

Quem concorda com ele é Maria Cecília dos Santos. Uma das filhas de Garrincha, ela luta para que a imagem do pai seja mais divulgada. Em sua casa, em Oswaldo Cruz, fez uma espécie de memorial do pai. Estão lá fotos, homenagens recebidas e réplicas de camisas. Não tão raro, torcedores batem à sua porta e pedem para conhecer o local, o que permite com prazer:

— Não posso deixar a imagem dele ser esquecida — conta. — A gente precisa botar mais o Garrincha na cabeça do povo.

A estatueta de Garrincha voltada para colecionadores

A estatueta de Garrincha voltada para colecionadores – (Foto: Divulgação / Memorabília do Esporte)

 

Arivaldo Maia com Rafael Oliveira – Redação do EXTRA