Torcedores com baixo orçamento trocam hotéis luxuosos por acampamentos no deserto
   26 de novembro de 2022   │     19:00  │  0

Torcedores com baixo orçamento trocam hotéis luxuosos por acampamentos no deserto
Vilas na cidade de Al Khor são opções para quem não conseguiu vagas em Doha.

Para alguns torcedores acompanhar a Copa do Mundo do Catar começa todas as manhãs em um acampamento no meio do deserto. Fãs que acharam os hotéis no centro de Doha lotados ou caros, tiveram que se contentar com as vilas empoeiradas na cidade de Al Khor, sem fechaduras e sem cerveja. Outros estavam simplesmente procurando uma aventura.

Na quarta-feira, um DJ preparou o cenário com música eletrônica, enquanto centenas de fãs se reuniam sentados em pufes ao redor de uma fogueira, bebendo refrigerantes e assistindo a um telão em uma área, que fica a uma hora da capital Doha.

“Estou aqui porque não encontrei mais nada”, disse Haidar Haji, um engenheiro de arquitetura, de 27 anos, do Kuwait, que aponta ser um problema partir da vila para Doha todas as manhãs, mas que não tinha outra escolha.

Ainda assim, acampar em Al Khor não é barato. Haji disse que pagou US$ 450 (cerca de R$ 2.411,00) por noite para ficar neste abrigo improvisado que as autoridades consideram como “o destino perfeito para uma estadia luxuosa e agradável”. As tendas estão equipadas com ar condicionado e móveis básicos. Também há uma piscina e um restaurante de alto nível.

A partir do momento em que o Catar foi escolhido para ser sede da Copa do Mundo, surgiram dúvidas se o pequeno país conseguiria atender a demanda por acomodações para os cerca de 1,2 milhão de torcedores esperados, quase um terço da população do país.

Um frenético programa de construção do governo do Catar conseguiu equipar dezenas de milhares de quartos em novos hotéis, apartamentos e até navios de cruzeiro, mas o alto custo obrigou alguns torcedores a se aventurarem no camping no deserto e nas gigantescas vilas nos arredores de Doha, incluindo um próximo ao aeroporto com salas de papelão ondulado.

Centenas de torcedores reclamaram do isolamento e da falta de álcool na aldeia de Al Khor. “Honestamente, há mais álcool em Teerã”, disse Parisa, funcionária da indústria petrolífera do Irã, que não quis revelar seu sobrenome devido à situação política do seu país.

A mexicana Paola Bernal, do estado de Tabasco, não sabia o que esperar da primeira Copa do Mundo no Oriente Médio, mas disse ter se surpreendido com o sistema de transporte na pequena nação. Os ônibus para as aldeias são “um desastre”. Segundo ela, o serviço para de operar às 22h, forçando os torcedores pagar grandes somas de dinheiro por um Uber.

Muitos reclamaram da longa espera para fazer a entrada nos acampamentos. Uma multidão esperava online na quarta-feira para adentrar em seus quartos. “Queríamos boa energia, estar com as pessoas”, disse o marroquino Mouman Alani. “Isso é muito desorganizado.”

Outro citou o “Fyre Festival 2.0?, em referência ao infame festival de música que deixou fãs espalhados em abrigos improvisados no meio de uma ilha no Caribe. “Quando chegamos ao quarto, estava uma bagunça”, disse Aman Mohammed, de Calcutá, Índia. Apesar da decepção, o torcedor garantiu que o foco na Copa do Mundo é o futebol.

Arivaldo Maia com redação do Estadão Conteúdo