Os 50 anos da Loteria Esportiva
   21 de abril de 2020   │     10:30  │  0

Foi uma assinatura de Delfim Neto, então ministro da Fazenda, que liberou o início das apostas em partidas de futebol nacional e internacional no Brasil por meio da recém-criada Loteria Esportiva, nome que fez muitos brasileiros sonharem em se tornarem ricos do dia para a noite. O concurso de estreia foi em um domingo, como este 19 de abril, há cinquenta anos.

A influência do jogo legalizado acabou sendo maior do que o previsto e influenciou em outros aspectos da nossa cultura. Inspirou a criação de uma mascote para a loteria e também para um clube brasileiro, que foi a aclamada zebra, acabou mudando a cobertura de campeonatos pelas rádios esportivas e resultou em um dos maiores escândalos esportivos do país.

Abaixo, separamos momentos que marcaram a trajetória da Loteria Esportiva no Brasil.

Ditadura e futebol

O ministro da Fazenda, Delfim Neto, assinou a portaria regulamentando o funcionamento da loteria esportivo em 25 de março de 1970. Pode parecer estranho que o primeiro prêmio só ocorreu quase um mês depois, mas a verdade é que o atraso já estava quase completando um ano.

O decreto-lei instituindo a loteria esportiva foi assinado em 27 de maio de 1969 pelo então presidente Artur Costa e Silva, o segundo a ocupar o cargo durante a Ditadura Militar no Brasil. Demorou pela necessidade de a Caixa Econômica Federal regularizar e credenciar agências que seriam autorizadas a fazer a venda e a manipulação das cartelas dos jogos.

A criação da loteria naquele momento tinha diferentes objetivos para o governo militar, embora tenha sido colocada como parte do plano de incentivo do governo ao esporte nacional.

É um detalhe importante no contexto da criação da loteria. Entre as estratégias de comunicação dos militares, fazia parte impulsionar o esporte para que ao seu sucesso fosse creditado aos líderes da nação. O triunfo da Copa do Mundo de 1970 é um exemplo mais conhecido.

A instituição da Loteria Esportiva também acabou por fortalecer a CBD (Confederação Brasileira de Desportos), que seria desmembrada em 1979 para a criação de confederações para cada um dos esportes. Parte da verba arrecada pela loteria ia para os cofres da CBD.

“Povo rico”

Os jornais da época dizem que, ao anunciar a criação da loteria esportiva, o presidente Artur Costa e Silva fez um anúncio empolgado, dizendo que tinha chegado a hora de o “povo ficar rico”.

De fato, a premiação era empolgante. Quem fizesse 13 pontos, ou seja, tivesse 100% de acerto naquele jogo inaugural, seria contemplado com uma premiação de 200 mil cruzeiros novos, algo equivalente a R$ 1,3 milhão nos dias atuais, já com a inflação corrigida. Ninguém fez os 13 pontos (leia abaixo o por quê), mas a Loteria Esportiva acabou “viralizando”. Com o tempo a premiação subiu, chegando o prêmio maior valer 10 milhões de cruzeiros (R$ 68,4 milhões), embora fosse admitido vencedores que fizessem no mínimo nove pontos.

O jogo inaugural da loteria esportiva foi disponibilizado apenas para o Estado da Guanabara (Rio de Janeiro). Embora oficial, ele foi feito assim para servir como teste para a Caixa Econômica.

Os 13 jogos listados (veja imagem abaixo) contemplavam duas partidas pelo Estadual do Rio de Janeiro, dois do torneio de juvenis do Rio, quatro do Campeonato Paulista, uma partida do Gaúcho, uma do Mineiro e uma do Paranaense, além de dois jogos do Campeonato Português.

Ninguém conseguiu fazer os 13 pontos. Tudo por causa de uma zebra.

O Esportivo derrotou o Grêmio por 1 a 0, no estádio Montanha dos Vinhedos, gol de Décio, em partida pela fase preliminar do Campeonato Gaúcho. Alguns argumentaram que não chegou a ser um “zebra legítima” porque os gremistas estavam com uma equipe reserva.

Mesmo assim, foi o suficiente para o time Bento Gonçalves adotar uma zebra como mascote. Um animal já comum como sinônimo de “surpresa” em jogos de azar. A referência era tão forte que uma zebra foi incluída dentro da exibição do “Fantástico”, da TV Globo, a partir de 1978, durante o quadro em que eram apresentados os resultados da Loteria Esportiva. Quem fazia a leitura era o jornalista Léo Batista. Quando aparecia uma zebra, a mascote dizia “Ah, olha eu aí”.

Blog e ESPN