Ex-moradora de ocupação no Rio é esperança de gols do Brasil na Copa do Mundo de crianças de rua no Catar
   19 de setembro de 2022   │     19:00  │  0

Yasmin Pereira da Silva, de 17 anos, que foi acolhida pela Assistência Social e vai pra Copa do Mundo de Futebol Infantil de Rua no CatarYasmin Pereira da Silva, de 17 anos, que foi acolhida pela Assistência Social e vai pra Copa do Mundo de Futebol Infantil de Rua no Catar – (Foto: Fabio Costa/Divulgação/SMAS)

No dia 5 de outubro, a seleção brasileira viaja para o Catar com o sonho de conquistar mais uma Copa do Mundo. Mas se engana quem pensa que serão os comandados de Tite no avião. Quem embarcará cheio de esperança na bagagem será o time feminino do programa Street Child United Brazil (SCUB), que levará meninos e meninas para disputar a Copa do Mundo de Crianças de Rua em Doha. Em sua quarta edição, a competição será realizada do dia 8 ao dia 15 do próximo mês, com 12 países no torneio feminino e 15 no masculino.

Entre as convocadas, uma das grandes esperanças de gol é Yasmim Pereira. Centroavante titular da equipe, a jovem de 17 anos pode ser considerada um sinônimo da palavra “esperança”. Apaixonada por futebol desde os 8 anos, quando jogava nos campos e areias de Copacabana com o primo Carlos Eduardo, Yasmim morava com a avó numa casa ocupada no Centro do Rio conhecida como Casarão e, desde os 11 anos, vendeu doces na Praça XV.

Aos 13, Yasmim começou a treinar na Estrela Nova, projeto esportivo no Aterro do Flamengo. Com gols e um bom desempenho nas quatro linhas, a atacante foi indicada no ano passado para competir no torneio de crianças de rua no Catar.

— Não conhecia (o torneio). Agradeço a Deus, minha família e às pessoas que me ajudaram a tirar o passaporte. Vai ser a minha primeira viagem. Espero que seja a primeira de muitas. É muito emocionante. Espero que chegue logo — revelou Yasmim ao GLOBO.

A ida da jovem para Doha contou com a mobilização da Secretaria Municipal de Assistência Social (SMAS) do Rio, que a ajudou a retirar o passaporte. Através da equipe de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI), Yasmim teve sua história descoberta aos 16 anos enquanto vendia os doces na Praça XV. Atualmente, a jovem mora com a avó no Morro do Caracol, no Complexo da Penha, e conseguiu um emprego como Jovem Aprendiz da Petrobras, enquanto cursa o primeiro ano do ensino médio.

Agora com a chance de mostrar os dribles e gols no Catar com a camisa amarelinha, por pouco Yasmim, que torce para o Fluminense, não teve a chance de vestir vermelho e preto. Aos 13 e aos 14 anos, a atacante teve oportunidades de jogar nas divisões de base do Flamengo. No entanto, por não morar com os pais, com quem não tem contato, a jovem enfrentou dificuldades para tirar os documentos necessários. Além disso, sem o apoio da família, ela não conseguiu resolver sozinha a questão dos exames que precisaria fazer.

— Nunca tive essa oportunidade, mas tenho esse sonho (de jogar no Fluminense, clube do coração). Não só lá, mas em qualquer time aqui do Rio — contou Yasmim, que embora ainda não saiba quem vai enfrentar na Copa do Mundo, não se mostrou preocupada. — Confiança acima de tudo.

Enquanto não chega a data de partir para o Catar, o time feminino se prepara no campo do Street Child United Brazil, localizado no Complexo da Penha. Criado pela Associação das Crianças da Rua Unidas e inaugurado em 2015, o programa conta com cerca de 300 crianças ao todo, sendo 80 envolvidas em atividades diárias.

Enquanto o torneio masculino é realizado desde a Copa do Mundo da África, em 2010, o feminino começou em 2014, no Mundial do Brasil. Entre as meninas, a seleção brasileira é a atual bicampeã — venceu, portanto, todas as edições. Já entre os homens, o país nunca foi campeão.

Arivaldo Maia com EXTRA