ESPECIAL: Cappelozza fala sobre título da PFL e morte do pai, afimando que “Tenho certeza que ele estava lá”
   7 de dezembro de 2021   │     5:00  │  0

Bruno Cappelozza (dir.) cumprimenta Ray Sefo (esq.), presidente da PFL, que ajudou a garantir que ele não soubesse do falecimento do pai antes da luta — Foto: PFL

Bruno Cappelozza (dir.) cumprimenta Ray Sefo (esq.), presidente da PFL, que ajudou a garantir que ele não soubesse do falecimento do pai antes da luta — (Foto: PFL)

Campeão peso-pesado fala pela primeira vez após conquistar prêmio de um milhão de dólares e descobrir sobre falecimento: “Se eu soubesse antes, com certeza não iria lutar”.

O dia 27 de outubro de 2021 ficará marcado para sempre na memória de Bruno Cappelozza. Naquela quarta-feira, o lutador de Jaú-SP se tornou milionário ao vencer o torneio peso-pesado da Professional Fighters League (PFL) e descobriu que seu pai, seu maior ídolo, havia morrido. Um mês depois, ainda não caiu a ficha de tudo que aconteceu com ele num espaço de uma hora.

Mesmo assim, Cappelozza topou esta semana dar ao Combate.com sua primeira entrevista desde aquela fatídica data. O peso-pesado está em bons espíritos, mas admitiu ainda estar “um pouco perdido, a cabeça meio avoada” sem sua referência. Seu pai, João Roberto, faleceu quatro dias antes da final da PFL, aos 74 anos de idade, mas seus treinadores só o informaram depois de ele deixar o cage com a vitória sobre Ante Delija, cinturão no ombro e cheque de 1 milhão de dólares nas mãos.

A decisão de manter segredo, porém, não foi da equipe, mas do próprio João e da mãe de Bruno, Regina. E Cappelozza reconhece que foi a decisão correta.

– Quando o meu pai foi entrar na sala da UTI, falou para minha mãe assim: “Não deixa o Bruno ficar sabendo”. Porque ele sabe o tanto que eu sou apegado a ele, sabe que ia me desfocar muito. Na verdade, se eu acabo descobrindo que meu pai tinha falecido, eu nem ia lutar, porque imagine o jeito que eu ia estar emocionalmente. Se eu soubesse antes da luta, eu com certeza não iria lutar – contou Bruno.

Mas não bastava que a equipe não contasse; era preciso evitar que a notícia chegasse ao lutador através de outras fontes. Por isso, o lutador e treinador Rony Markes convocou o presidente da PFL, Ray Sefo, e o empresário Ali Abdelaziz para bolar uma desculpa para bloquear o acesso dele às redes sociais, onde amigos e parentes alheios ao plano poderiam vazar a informação.

– O Rony, durante esses quatro dias, eu vi ele à noite no banheiro chorando, eu achava estranho. Ele chamou o Ali e o Ray Sefo no meu quarto, eles tiveram uma reunião comigo e falaram: “Agora você tem uma luta muito importante, esses últimos quatro dias vamos tirar seu celular.” Eu fiquei p***! Todo dia xingava o Rony. Fiquei até com dó dele, pedi desculpa depois. Porque eu não estava entendendo o que estava acontecendo, eles (disseram), “Todos os campeões estão tirando (o celular), a Kayla (Harrison) tirou, você também tem que tirar”. Porque eu não estava entendendo o que estava acontecendo, eles (disseram), “Todos os campeões estão tirando (o celular), a Kayla (Harrison) tirou, você também tem que tirar”. Eu acabei obedecendo uma ordem e foi a melhor escolha – explicou.

Cappelozza chegou à luta sem saber do que tinha acontecido no Brasil, totalmente concentrado. Sua luta contra Ante Delija acabou sendo a mais difícil de sua campanha na PFL. Após nocautear seus três adversários sem ser ameaçado ou chegar ao terceiro round, o paulista quase foi nocauteado no segundo assalto.

– Eu jogo um jab em pé, ele joga um direto por cima ali, eu já tomei um knockdown. Bato de costas na grade e eu consegui abraçar, aí ele me deu uma queda e começa a bater. Eu acho que o segundo soco pega bem aqui (na orelha), eu tomo outro knockdown, daí que eu volto. Ele me dá mais um, eu volto, tento subir para esgrimar. Eu acho que de tanto ele bater, ele dá uma cansada, eu viro de quatro apoios e pego as costas dele ali no final. Mas quando você está com a cabeça bem preparada e foca muito na vitória, é difícil você desistir. Eu não desisto por nada, eu tenho aquela gana da vitória.

Cappelozza e Delija acabaram batalhando até o final do tempo regulamentar, e o brasileiro foi anunciado vencedor por decisão unânime dos juízes. O peso-pesado não sabia naquela hora da partida de seu pai, mas em retrospecto, acredita que Seu João lhe deu o empurrão que precisava para garantir a vitória no quinto e último round.

– No quinto, vem aquela força que eu tenho certeza que meu pai estava junto comigo ali. É impressionante a força que eu tive, a vontade. E meu pai, meus familiares conversaram com a médica, e ele falou assim antes de ser entubado: “Fica tranquila que, se eu morrer, eu vou assistir a luta do meu filho lá de perto!” Então eu tenho certeza que ele estava lá.

Apesar da distância, Bruno Cappelozza ainda conseguiu se despedir de seu pai. A pedido da família, a funerária embalsamou o corpo de João por 10 dias, para que o lutador tivesse tempo de voltar a Jaú e participar do enterro.

Agora, o lutador tenta seguir sua nova vida de campeão milionário. O prêmio já foi depositado numa conta nos EUA, mas Cappelozza vem enfrentando a burocracia para trazer uma parte para o Brasil. Ele segue morando com a mãe, Regina, de 63 anos, mas já começou a procurar uma casa para se mudar com a esposa, Jéssica, e o filho, David. Até agora, a única coisa que comprou foi uma moto.

Ele pretende também levar a família para acompanhá-lo nos Estados Unidos quando a temporada 2022 da PFL começar, com previsão para abril. Em 2021, Bruno passou a maior parte do ano longe dos entes queridos devido ao pouco tempo entre as lutas e a necessidade de quarentena para entrar nos EUA. O campeão também garante que vai buscar o bicampeonato da liga, apesar de ter ouvido que o UFC tem interesse nele.

Eu vi na internet umas entrevistas, o Dana White parece que viu alguma luta minha, falou do meu nome, alguma coisa assim. O Minotauro também perguntou se eu tinha o sonho de lutar no UFC (risos). Eu falei assim, “Só depois de eu ganhar mais um milhão!” (risos).
— Bruno Cappelozza

– Pelo que a PFL faz por mim, como eles me tratam, não tem como eu sair da PFL. Pela grana que eles me pagam também, eu estou muito contente na organização. Tenho uma amizade muito grande com o Ray Sefo. Estou feliz demais, é um lugar que eu não quero sair – concluiu o campeão peso-pesado.

Bruno Cappelozza (dir.) e o pai, João Roberto (esq.): o próprio pai pediu para que o filho não soubesse de sua morte antes da luta — Foto: Reprodução / Instagram

Bruno Cappelozza (dir.) e o pai, João Roberto (esq.): o próprio pai pediu para que o filho não soubesse de sua morte antes da luta —( Foto: Reprodução / Instagram)

Blog com Adriano Albuquerque  – COMBATE – Rio de Janeiro