Justiça manda Fifa indenizar brasileiro inventor do spray: “Davi venceu o Golias”
   1 de novembro de 2021   │     15:00  │  0

Fifa perdeu ação para brasileiro

Fifa perdeu ação para brasileiro – 

Valor da indenização será definido na próxima etapa do processo.

O brasileiro Heine Allemagne, que há seis anos briga judicialmente com a Fifa, conseguiu uma vitória importante na Justiça nesta quarta-feira. A 14ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro condenou a entidade máxima do futebol a indenizar a Spuni Comércio de Produtos Esportivos, empresa de Allemagne, por danos causados em decorrência da utilização não autorizada do spray de demarcação de barreira em competições de futebol.

O Tribunal de Apelação acolheu o recurso apresentado pela Spuni e reverteu a decisão de primeira instância de julho do ano passado. Na ocasião, a juíza Fabelisa Gomes Leal, da 7.ª Vara Empresarial do TJ-RJ, havia dado razão à Fifa ao considerar que a entidade não tinha violado o uso da patente que pertence a Allemagne.

Por unanimidade, a 14ª Câmara Cível do Tribunal de Apelação determinou que a Fifa indenize Spuni e reconheceu a má-fé da entidade em razão da falta de lisura nas negociações existentes entre o inventor da tecnologia e a entidade. Ainda cabe recurso, mas a decisão desta quarta não permite mais a discussão de provas e fatos.

“O Davi venceu o Golias do futebol”, afirma ao Estadão Allemagne, sem esconder o entusiasmo pela decisão da Justiça. “Vencer a Fifa, o maior órgão, a dona do futebol, dona do esporte mais amado do planeta, é um feito épico. Eu me sinto um ituiutabano, mineiro e brasileiro vencedor que fez história no futebol mundial. Hoje mais que o inventor do spray, sou o homem comum, que venceu a Fifa”, acrescenta.

Relator do processo, o desembargador Francisco de Assis Pessanha Filho decidiu que a Spuni deve ser indenizada pelos danos ocorridos desde 2012. Também foi determinado que a entidade pague R$ 50 mil por ter utilizado a tecnologia na Copa do Mundo de 2014, no Brasil, ocultando a marca da Spuni. O produto fora cedido de graça.

“A Fifa, após reiterada utilização gratuita do produto, transferência de expertise e promessas de compra da patente, atuou em flagrante má-fé negocial, violando o nome da empresa autora e ficando inerte na concretização do negócio jurídico”, argumentou o desembargador.

No julgamento, a defesa da Fifa argumentou que não usa inventos, não compra patentes, e que não violou patente nenhuma. O Estadão tentou contato com o departamento de comunicação da entidade que rege o futebol mundial, mas não obteve retorno até a publicação da reportagem.

O valor da indenização será definido em uma próxima etapa processual. Somente uma parte da indenização é estimada, na peça que inaugurou o litígio, de 2017, em mais de R$ 50 milhões. Naquela peça, o inventor pedia U$S 40 milhões. Esse é o valor mínimo que, segundo o brasileiro, a Fifa prometeu que lhe pagaria para comprar o equipamento.

“Eu falei com o (secretário-geral da Fifa) Jérôme Valcke. Na Fifa, pedimos um preço justo, e há avaliações de mercado que confirmam valores maiores do que a Fifa ofereceu”, alegou Allemagne.

Em 2014, ele chegou a receber uma proposta de US$ 500 mil pela compra de sua patente, mas considerou o valor irrisório. “Eu nem respondi àquela proposta imoral. E depois daquilo, a Fifa continuou as tratativas e nos usando, continuou solicitando o uso e os testes, tanto que chegamos a treinar os árbitros da Copa do Mundo no campo do Zico e no hotel Windsor”, relata o mineiro de 50 anos.

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