Triste adeus de Pelé à seleção brasileira completa 50 anos
   19 de julho de 2021   │     12:00  │  0

Pelé durante a Copa de 1958 com a seleção brasileira – (Foto: Reprodução)

Rei do futebol mudou o esporte no mundo inteiro

“O clima na arquibancada era de extrema tristeza. Muitas pessoas chorando. Ninguém aceitando aquela despedida. Parecia um velório num campo de futebol. Ver o Brasil sem Pelé era como deixar o torcedor órfão.” O desabafo vem acompanhado de um tom de nostalgia. Mesmo passados 50 anos do último jogo de Pelé pela seleção brasileira, o sentimento de luto segue vivo na memória de Mauro Prais, que naquele 18 de julho de 1971, ainda adolescente, assistiu à última atuação do Rei do Futebol da arquibancada do Maracanã. O País parou para ver e lamentar.

Hoje, com 64 anos, e morando nos Estados Unidos, Prais é engenheiro eletricista e também pesquisador da história do Vasco. Fã de Roberto Dinamite, ele coloca Pelé, ainda hoje, na condição de ídolo incomparável junto à seleção brasileira. “O Pelé conseguia unir as quatro grandes torcidas do Rio. Você sabia que o seu time iria perder para o Santos, mas todos compareciam ao Maracanã para ver o Pelé em campo.” Isso acontecia não somente no Rio. O Santos desfilava seu talento pelo Brasil sob o comando do camisa 10.

A partida que marcou o fim do ciclo do Rei terminou em empate de 2 a 2 com a Iugoslávia. Apesar de Pelé ter passado em branco (Rivellino e Gerson marcaram para o Brasil), Prais lembra que o camisa 10 fez de tudo para presentear a torcida com um gol na despedida. “A gente percebia que os companheiros jogavam em função do Pelé para que ele pudesse marcar. E esse era também o desejo dos torcedores. No fundo, todos tinham uma esperança de que Pelé pudesse voltar atrás em sua decisão de não jogar mais pela seleção”, contou Prais ao Estadão.

Das arquibancadas para o gramado, o jogo também mexeu com a emoção de quem esteve no Maracanã pelo dever do ofício. Então repórter de campo, Washington Rodrigues, o Apolinho, classificou a partida como uma das mais complicadas de seu vasto currículo de transmissões.

“Foi difícil de trabalhar, a imprensa inteira querendo falar com Pelé. Muitos ficaram com a voz embargada. Nós, jornalistas, nos emocionamos e o Pelé também. E quando a torcida começou a gritar ‘fica, fica, fica’, foi uma coisa de louco. O Pelé não era do Santos, o Pelé era do Brasil”, disse o jornalista

Presente também quando Pelé marcou o milésimo gol, em novembro de 1969, Apolinho comparou o clima daquela partida com a despedida diante da Iugoslávia. “O jogo do milésimo gol foi uma festa, homenagens, euforia. Contra os iugoslavos, não. Acho que foi o maior velório a céu aberto do mundo. Para onde você olhava, tinha gente chorando na arquibancada. E o Maracanã recebeu umas 150 mil pessoas para o jogo.”

O encerramento do primeiro tempo marcou o fim da era Pelé. Ali ele se despediu, cumprimentou os companheiros e adversários e deu uma volta olímpica com as crianças. “Foi um jogo de 45 minutos. A própria Iugoslávia perdeu o sentido de competição com a saída do Pelé de cena”, completou Apolinho, que acompanhou de perto a carreira do Rei no Santos e Brasil.

Em seus últimos momentos à serviço da seleção brasileira, Pelé justificou o que dele se esperava. Procurou jogo, finalizou com perigo, fez tabela com Gerson e Rivellino e, por várias vezes, tramou jogadas ofensivas com os atacantes Zequinha e Vaguinho. Pelé tinha 30 anos e havia acabado de ganhar a Copa do Mundo de 1970, no México.

Para o ex-lateral Zé Maria, então com 22 anos, aquele jogo ainda deixa marcas em sua memória. “Foi um dia que eu não gostaria de ter vivido. Ele estava inteiro e poderia continuar conosco. Ele não era o capitão, mas era um líder do time. Ao mesmo tempo em que nos motivava e passava confiança, também cobrava da gente em campo. Dizia sempre que precisávamos correr pelos mais velhos e que um dia nós iríamos substituir aquela geração consagrada”.

Considerado pelo próprio Pelé como o camisa 10 que mais se aproximou ao seu estilo no Brasil, Zico viveu naquele mesmo dia, e também no mesmo gramado, um momento importante de sua carreira Com 18 anos, ele atuou pela seleção carioca de juvenis contra o Vasco, campeão da categoria naquele ano, e fez o gol da vitória de 1 a 0.

 

Blog com Estadão Conteúdo