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Péris Ribeiro, amigo e biógrafo; Amarildo, companheiro de time e Seleção Brasileira; José Inácio Werneck, jornalista: trio dimensiona o ex-meia, que morreu há duas décadas.
– Não penso que teve outro, na posição dele, que fez coisas melhores do que as que ele fazia. Pode ser identificado como um dos melhores jogadores com quem eu joguei e um dos melhores que vi. A técnica e inteligência que ele tinha, ele usava ao máximo. Sempre foi positivo que ele foi participante de um futebol maravilhoso. E quando ele deixou de jogar, deixou uma falta muito grande – revela, ao LANCE!, Amarildo, o Possesso.
Didi nasceu Waldir Pereira, em Campos dos Goytacazes, no Norte do estado do Rio, e se tornou ídolo do Fluminense. Teve três passagens pelo Botafogo, onde também é ídolo, e ainda passou pelo Real Madrid. Na Espanha, a ciumeira de Alfredo Di Stéfano lhe impediu vida longa. Mesmo assim, foram mais de 15 anos no mais alto nível possível. Três Copas do Mundo, dois títulos de Mundial e prêmio de melhor jogador do primeiro vencido pelo Brasil, o de 1958.
Gerson, citado acima, é o Canhotinha de Ouro, que sempre se levanta quando fala de seu professor. Não é pouco ter visto Didi jogar, como Werkeck viu. É um privilégio tamanha a elegância com a qual Didi desfilava em campo. Nelson Rodrigues o descrevia como um Príncipe Etíope. Aliás, o mesmo Nelson usava de suas metáforas rodrigueanas para exaltar o meio-campista. Quem lembra é Péris Ribeiro, jornalista, amigo e biógrafo de Didi.
– No Brasil, ele chegou a ser o jogador de maior salário. Tanto é que o Nelson Rodrigues constantemente colocava que o Didi tomava banho numa banheira de leite de cabra, como se fosse Cleópatra, e que o salário dele era maior que o salário do presidente da república, que era o nosso JK, o Juscelino Kubitschek – recordou, ao LANCE!.
Chamado de “Mestre” desde os tempos de jogador, teve na carreira de treinador o momento de grande ganho financeiro. Levou – ou quase que ensinou – o bom futebol por países como Turquia e Arábia Saudita. Fora o Peru, onde se tornou “praticamente um Deus”, de acordo com Péris Ribeiro. Levou, inclusive, a seleção local a uma Copa do Mundo após 40 anos. A eliminação foi para o Brasil. O Brasil de 1970.
Amarildo é 11 anos mais novo do que Didi. Bebeu bastante da fonte e, por isso, entende que o sucesso à beira do gramado foi uma consequência.
– Não poderia ser outra coisa. A inteligência que ele tinha no futebol, como jogador… ele era um conhecedor de qualidades – resumiu o Possesso.
Já o “folha seca” é o chute que foi batizado e virou marca. A bola sobe e, com efeito, desce, como uma folha caindo de uma árvore. Efeito que se tenta repetir hoje em dia corriqueiramente. E foi dele também o primeiro gol do Maracanã.
Simples, elegante e soberano, o “príncipe” de Nelson Rodrigues era amigo de gente importante, como João Havelange e o próprio JK. Péris Ribeiro, que escreveu “Didi: o gênio da folha seca” (está na terceira edição), entende que, se fosse vivo, Didi lamentaria mais do que veria beleza no mundo da bola e no Planeta Terra.
– Acho que ele teria decepções com o mundo de maneira geral. Com relação ao futebol, sim, e as exceções seriam o Zidane – ele sempre achava o Zidane muito inteligente, um jogador altamente elegante, cerebral. Talvez não o visse, hoje, como um grande técnico, mas, sim, aquele jogador que levou a experiência do campo para o vestiário e tudo mais. E o Pep Guardiola, esse, sim, um grande treinador – avalia Péris. E completa:
– Jogador (atual) eu creio que ele se limitaria a (gostar do) Messi. E a situação do mundo, hoje, seria de alta decepção e muita preocupação com relação ao caos que a gente passa, em todos os sentidos – pondera.
Meia de um tempo com mais espaço para a arte, Didi vestiu muitas vezes a camisa 8. Lançava mais do que fazia ele os gols. Mais atrás no caminho do gol, lhe cabia por vezes o combate. Mas Amarildo alerta.
– O Didi não precisava ser marcador. Ele que era marcado. Porque eu penso que, pela qualidade que o time também tinha, essa coisa de marcação… mas ele estava sempre no posto justo, sem ter que dar paulada, fazer falta. Ele jogava. Os outros é que tinham preocupação – lembrou o ex-atacante.
Entendedor de vinho, fã do poeta chileno Pablo Neruda, com quem chegou a conversar. Era a excelência personificada. Quando se foi, Didi deixou Guiomar às vésperas dos 50 anos de casamento do casal. Ela se juntou a ele um mês depois.