Vinte anos sem Didi: quem conviveu, quem jogou e quem viu lembram o gênio, o mestre, o príncipe
   13 de maio de 2021   │     13:30  │  0

Didi já era considerado gênio no Brasil. Após o Mundial da Suécia, a Europa lhe reverenciou (Foto: Reprodução)

Didi já era considerado gênio no Brasil. Após o Mundial da Suécia, a Europa lhe reverenciou (Foto: Reprodução)

Foto: Lance

Péris Ribeiro, amigo e biógrafo; Amarildo, companheiro de time e Seleção Brasileira; José Inácio Werneck, jornalista: trio dimensiona o ex-meia, que morreu há duas décadas.

Naquele dia seguinte, a Folha de São Paulo o definiu como “um dos maiores jogadores de futebol de todos os tempos”. A Federação Internacional de História e Estatísticas do Futebol (IFFHS) o coloca na seleção da América do Sul no Século XX e como o sétimo maior jogador brasileiro do século passado. Num 12 de maio como este, mas em 2001, Didi nos deixava. E levava com ele muito mais do que sua “folha seca”.

Cada adjetivo é pouco para um craque de um tempo em que havia pouca tecnologia para disseminar os lances e feitos do ex-meio-campista. E como ele se foi no início do milênio, viveu pouco da época atual, na qual tantos registros são feitos espontaneamente. Foram 72 anos de vida, mas uma vida para a história. História contada também e tão bem por quem jogou com ele.

– Não penso que teve outro, na posição dele, que fez coisas melhores do que as que ele fazia. Pode ser identificado como um dos melhores jogadores com quem eu joguei e um dos melhores que vi. A técnica e inteligência que ele tinha, ele usava ao máximo. Sempre foi positivo que ele foi participante de um futebol maravilhoso. E quando ele deixou de jogar, deixou uma falta muito grande – revela, ao LANCE!, Amarildo, o Possesso.

Amarildo é 11 anos mais novo do que Didi. Bebeu bastante da fonte e, por isso, entende que o sucesso à beira do gramado foi uma consequência.

– Não poderia ser outra coisa. A inteligência que ele tinha no futebol, como jogador… ele era um conhecedor de qualidades – resumiu o Possesso.

Já o “folha seca” é o chute que foi batizado e virou marca. A bola sobe e, com efeito, desce, como uma folha caindo de uma árvore. Efeito que se tenta repetir hoje em dia corriqueiramente. E foi dele também o primeiro gol do Maracanã.

Simples, elegante e soberano, o “príncipe” de Nelson Rodrigues era amigo de gente importante, como João Havelange e o próprio JK. Péris Ribeiro, que escreveu “Didi: o gênio da folha seca” (está na terceira edição), entende que, se fosse vivo, Didi lamentaria mais do que veria beleza no mundo da bola e no Planeta Terra.

– Acho que ele teria decepções com o mundo de maneira geral. Com relação ao futebol, sim, e as exceções seriam o Zidane – ele sempre achava o Zidane muito inteligente, um jogador altamente elegante, cerebral. Talvez não o visse, hoje, como um grande técnico, mas, sim, aquele jogador que levou a experiência do campo para o vestiário e tudo mais. E o Pep Guardiola, esse, sim, um grande treinador – avalia Péris. E completa:

– Jogador (atual) eu creio que ele se limitaria a (gostar do) Messi. E a situação do mundo, hoje, seria de alta decepção e muita preocupação com relação ao caos que a gente passa, em todos os sentidos – pondera.

Meia de um tempo com mais espaço para a arte, Didi vestiu muitas vezes a camisa 8. Lançava mais do que fazia ele os gols. Mais atrás no caminho do gol, lhe cabia por vezes o combate. Mas Amarildo alerta.

– O Didi não precisava ser marcador. Ele que era marcado. Porque eu penso que, pela qualidade que o time também tinha, essa coisa de marcação… mas ele estava sempre no posto justo, sem ter que dar paulada, fazer falta. Ele jogava. Os outros é que tinham preocupação – lembrou o ex-atacante.

– O Didi não precisava ser marcador. Ele que era marcado. Porque eu penso que, pela qualidade que o time também tinha, essa coisa de marcação… mas ele estava sempre no posto justo, sem ter que dar paulada, fazer falta. Ele jogava. Os outros é que tinham preocupação – lembrou o ex-atacante.

Entendedor de vinho, fã do poeta chileno Pablo Neruda, com quem chegou a conversar. Era a excelência personificada. Quando se foi, Didi deixou Guiomar às vésperas dos 50 anos de casamento do casal. Ela se juntou a ele um mês depois.

Em 1962, Garrincha, Didi, Pelé, Vavá e Zagallo (Foto: Reprodução)

Em 1962, Garrincha, Didi, Pelé, Vavá e Zagallo (Foto: Reprodução)

Foto: Lance!

 

Blog com Felippe Rocha/Lance!