As limitações impostas pela pandemia comprovam a paixão incondicional da baiana Morena Senna Saito pelo tiro com arco, modalidade na qual é recordista nacional. Impedida de comparecer às aulas presenciais do técnico Higor Cobesa, radicado em Bauru-SP, ela obtém conteúdos e instruções tanto por videoconferência ou trocando ideias pelas redes sociais.
Mas, como praticar nas condições atuais virou sinônimo de criatividade, ela apelou para as ‘mil e uma utilidades’ de espaços por ora ociosos onde reside. “Consegui com meu condomínio uma área que seria o bicicletário do prédio, mas que está em desuso. Nele, tenho dez metros para treinar usando alvos com tamanhos proporcionais a 18 metros, que eu mesma desenhei”, explica. A formação em arquitetura ajuda Morena, de 39 anos, a desenhar seus próprios alvos, obedecendo à proporcionalidade desejada.
Descendente de japoneses, ela se divide ainda como instrutora de arco e flecha, tecnóloga em gastronomia e faz, atualmente, mestrado na Ufba em Ciência de Alimentos. Também é aluna especial em algumas matérias no mestrado da Faculdade de Engenharia de Alimentos da Unicamp.
Somadas, essas atividades servem para demonstrar o quanto ela precisa otimizar o tempo para reservar uma preciosa parte dela ao esporte em que vem se destacando no país. As aulas de gastronomia, por exemplo, foram transformadas em aliadas de sua saúde, sempre valorizada e mais ainda em tempos de Covid-19.
“Tive uma professora chamada Joseni França, que na faculdade nos ensinou uma matéria que tinha muito a comida vegetariana nas preparações. Ela que me inseriu no mundo da pesquisa, me levando a ser aluna de Iniciação científica”, relembra.
“Procurei melhorar minha alimentação na pandemia e consegui perder peso com saúde”, relata a atleta, atestando que essa dieta evita inflamação do organismo pelos açúcares e alimentos com baixo valor nutricional.
Os resultados práticos de todo o esforço estão no que ela conquistou na temporada de 2020. “Participei de algumas competições internacionais: da Liga IFAA South America Mayo, em que fui campeã, com 11 países participantes. E da mesma competição na edição de julho, em que fiquei em segundo lugar”, contabiliza a atleta, que compete na categoria adulto freestyle limited recurve (recurvo feminino).
Também no ano passado, Morena participou da Online Archery Cup of Americas da World Archery (WA), uma competição com 23 países. Ao final, conquistou o segundo lugar entre as atletas brasileiras e o 48º no ranking geral.
“Em fevereiro deste ano comecei na competição da Field Brasil quebrando o recorde nacional da minha categoria, que as pessoas leigas chamam carinhosamente de ‘o arco das olimpíadas”, diz Morena, sobre seu maior feito na carreira. Com 279 pontos de 300 possíveis, ela derrubou o recorde anterior que era de 277 pontos na Field, entidade filiada à Federação Internacional de Arco e Flecha (IFFA).
Curiosamente, a atleta soteropolitana representa Sergipe e não a Bahia, por conta de somente no estado vizinho haver uma federação legalmente constituída representativa do tiro com arco e flecha.
Apesar de ter tido o primeiro contato com o tiro de arco e flecha quando estava com 15 anos de idade, Morena só veio se dedicar ao esporte decididamente em 2019, conseguindo competir no Circuito Nacional apenas em 2020. Sua meta é disputar os Jogos Olímpicos de Paris-2024, já que terá tempo hábil de preparação e porque nesse tipo de modalidade a idade não é decisiva.
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