Fellipe Bastos projeta carreira, cita atrito com Sá Pinto e vê falta de identidade: “Vasco não é Disney”
   23 de março de 2021   │     20:35  │  0

Fellipe Bastos encerrou passagem pelo Vasco em dezembro — Foto: André Durão/ge

Fellipe Bastos encerrou passagem pelo Vasco em dezembro – (Foto: André Durão/ge)

Vice-artilheiro do Vasco em 2020 ao lado de Ribamar, com quatro gols, Fellipe Bastos não teve seu contrato renovado com o clube em dezembro. Uma discussão com o treinador Ricardo Sá Pinto, que acabou demitido no mesmo mês, motivou o término da quarta passagem do volante por São Januário.

Três meses depois, em longa entrevista ao ge, o jogador de 31 anos detalhou o atrito com o técnico português, acusou a diretoria comanda pelo ex-presidente Alexandre Campello de não cumprir com o que lhe prometeu e elencou pontos centrais que, em sua opinião, levaram o clube ao quarto rebaixamento de sua história no Brasileirão.

Atualmente analisando possibilidades para seguir a carreira, Bastos acredita que o erro crucial do comando do futebol vascaíno foi a demissão de Ramon Menezes, no início de outubro. Disse acreditar também que a queda deu-se pela não absorção das ideias de Sá Pinto e em função de contratações de jogadores sem identificação com o clube, para quem revelou ter falado à época: “O Vasco não é Disneylândia”.

A saída de Bastos começou a se desenhar em 3 de dezembro, quando foi impedido pela Conmebol de participar da derrota por 1 a 0 para o Defensa y Justicia, que eliminou o Vasco nas oitavas de final da Copa Sul-Americana – tinha sido diagnosticado com a Covid-19 dias antes. O jogador foi barrado por seguranças da Conmebol em São Januário, local que considera sua casa, e, incomodado como o processo foi conduzido, teve de ir à sala de Sá Pinto no dia seguinte para ouvir explicações e cobranças do português. O tom subiu, e o caldo entornou.

– No outro dia, ele me chama na sala dele para conversar comigo. Ele disse: “Você sabe que pode ficar fora de qualquer jogo que eu escolher”. Falei: “Claro, o senhor é o treinador e escolhe. Com certeza é alguma coisa que a gente tem que acatar”. Aí ele começou a se exaltar e a falar alto: “Você tem que me respeitar como treinador”. Eu falei: “Te respeito como treinador, mas você não precisa falar alto. Só estamos eu e você na sala, estamos conversando”. Ele: “Mas você tem que acreditar na minha palavra”. Falei: “Não sei se foi você, se foi o supervisor, se foi o diretor, mas eu acho muito estranho o que aconteceu. Eu estava liberado para jogar na Argentina e sete dias depois no Brasil eu não estava. Mas cabe a mim aceitar ou não” – recordou Bastos.

Conhecido pelo temperamento explosivo, Sá Pinto começou a gesticular e apontou o dedo a Fellipe, segundo relato do volante. Foi o fim da conversa, já que, no entendimento do jogador, o treinador passara do ponto ali:

– Aí ele ficou possesso, começou a falar alto, gritar… Quando ele botou o dedo na minha cara, eu falei: “Cara, eu te respeito como treinador, mas você não é meu pai para ficar falando assim comigo. Então fala baixo, e a gente conversa normal”. Ele falou mais alto, a gente se exaltou, e um falou alto com o outro. Aí eu saí da sala, e ele falou: “Vai treinar afastado”.

Em casa enquanto define seu futuro no futebol, Bastos, que, aos risos, projeta mais 10 anos de carreira, curte o momento “de motorista dos filhos”, Giovanna e Matheus, também esportistas. E, no papo de quase uma hora com o ge, contou o quanto sofreu com o rebaixamento e a saída do Vasco, que lhe fez chorar diversas vezes.

Blog com ge.globo