Teto salarial e redução de gastos mudam cenário do futebol na China e podem provocar debandada
   20 de março de 2021   │     14:35  │  0

Paulinho tem contrato com o Guangzhou FC até 30 de junho de 2022 — Foto: Getty Images

Paulinho tem contrato com o Guangzhou FC até 30 de junho de 2022 — (Foto: Getty Images)

Liga sai de € 544 milhões em contratações em 2017 para € 54 milhões em 2021. Pandemia aumenta incertezas: “Ainda não temos calendário definitivo e nem tem como ter”, diz Paulinho.

Há quatro anos, a janela de transferências internacionais de janeiro se encerrava com uma intrusa entre as grandes ligas. No começo de 2017, a China superou a Premier League e todas as outras no mundo ao gastar € 388 milhões em contratações só naquele mês. Em 2021, tal valor está em apenas € 54 milhões. O cenário é outro.

Outrora visto como enorme mercado em potencial e promessa de salários milionários para os jogadores, o futebol chinês encontra-se numa encruzilhada. E vários fatores ajudam a explicá-la. Associados a grandes empresas do país, os clubes estão em situação complicada e afetados pelos impactos financeiros da pandemia do coronavírus. Há ainda relação conflituosa com o governo e suas regras. Um ambiente propício para provocar uma debandada de atletas, entre eles brasileiros.

Último campeão da Superliga Chinesa, o Jiangsu Suning anunciou no último dia de fevereiro que simplesmente encerraria as suas atividades. As dívidas do clube chegam a 500 million yuan (cerca de R$ 535 milhões). Dono do Jiangsu, o conglomerado que dava o sobrenome ao time da cidade de Nanquim não encontrou um comprador.
O grupo Suning adquiriu o Jiangsu em 2015. No ano seguinte, contratou o volante Ramires por € 32 milhões, transferência mais alta de um clube chinês até então. Poucos meses depois foi o atacante Alex Teixeira, por € 50 milhões, além do técnico italiano Fabio Capello.

Hoje a realidade é outra. As restrições impostas pelo governo chinês para controlar a disseminação do SARS-Cov-2 no país impactaram os negócios do conglomerado, que vai de tijolo e argamassa ao entretenimento. Os últimos investimentos não deram certo, e o Estado, que comprou 23% de suas operações recentemente, disse que o futebol não deveria ser mais prioridade.

– Nós vamos fechar e cortar negócios irrelevantes para o varejo sem hesitação – declarou o CEO do Suning, Zhang Jindong, em um vídeo para os funcionários do grupo divulgado em fevereiro.

O fechamento do Jiangsu é o principal retrato da decadência do futebol chinês. Ao todo, 16 clubes das três principais divisões entraram em colapso nos últimos 12 meses e foram desqualificados de competições por razões financeiras. Caso do Tianjin Quanjian, ex-clube do atacante Alexandre Pato, que decretou falência em maio passado.
A Associação Chinesa de Futebol (CFA) teve de estender a janela doméstica de transferências até o dia 26 de março, dada a crise financeira dos clubes da Superliga. O Tianjin Tigers, antes conhecido como Tianjin Teda, acumula 10 meses de salários atrasados. O Hebei FC também está à procura de novos investidores.

E os brasileiros que ficaram?

A primeira divisão chinesa conta atualmente com 30 brasileiros. Em meio a tantas indefinições e a pior onda de Covid-19 no Brasil, jogadores nascidos aqui que atuam na China ainda não sabem como, quando e se vão voltar ao país asiático. É o caso, por exemplo, de Renato Augusto, do Beijing Guoan, e Paulinho e Anderson Talisca, ambos do Guangzhou FC. Os três ainda não obtiveram liberação para voltar à China.

– Estou desde o início de janeiro tentando e não consigo ir. Cheguei abrir a possibilidade de ir sozinho, deixando minha família, e nem assim foi possível. É uma situação chata, mas sei que não é só comigo. Faço o que está ao meu alcance, que é trabalhar diariamente para manter minha forma e assim ganhar tempo quando puder me apresentar. Ainda não temos um calendário definitivo e nem tem como ter – contou o volante Paulinho, do Guangzhou FC, Evergrande.

Blog com ge.globo