“Mataram Diego lentamente”
   14 de março de 2021   │     10:00  │  0

Maradona, com o médico Leopoldo Duque, em 11 de novembro.Maradona, com o médico Leopoldo Duque, em 11 de novembro (Foto: El País)

Há exatos cem dias, Buenos Aires vivia a tarde “em que apagaram a luz”, metáfora que une a morte de Diego Armando Maradona a uma famosa canção de Charly García, o papa do rock argentino. Depois das maiores glórias e dos mais pesados dramas, Maradona respirou pela última vez em um quarto improvisado, em uma casa alugada por temporada, às margens do idílico rio Tigre, nas cercanias da capital portenha.

Acostumada a viver amores com a mesma intensidade com a qual castiga seus pecadores, a Argentina assiste horrorizada às novidades que jogam luz sobre sua morte. A perplexidade atingiu o auge nesta semana com o lançamento do documentário “La muerte de Maradona: sus últimos días”. A produção do Infobae, um dos principais portais de notícias da Argentina, revelou áudios e textos da investigação indicando que Diego era obrigado a trabalhar mesmo sem condições. Seu “entorno” só se preocuparia com o saldo bancário.

O documentário traz à tona áudios que mostram que o médico Leopoldo Luque e o advogado Matías Morla sabiam dos excessos do craque, mas não fizeram muita coisa para ajudá-lo. O vídeo, de 34 minutos e disponível no Youtube, termina com uma contundente acusação de Verónica Ojeda, mãe de Dieguito Fernando, filho caçula do astro: “Mataram Maradona lentamente. Assumo o que digo.”

Os áudios reunidos no documentário mostram a irresponsabilidade do médico de Maradona, Leopoldo Luque, em relação aos cuidados com o paciente. Luque narra uma bebedeira que teve com o craque e o define como “um velho otário”.

Em outros áudios, ele reconheceu saber que “Maradona fumava maconha e misturava vinho, cerveja e medicamentos psiquiátricos” e era “dopado para que seus assistentes levassem mulheres a sua casa”. Luque não demonstrou empatia nem nos minutos finais da vida do paciente VIP. Em uma mensagem de voz enviada a um amigo, disparou uma frase que já faz parte do inconsciente coletivo argentino: “El gordo se va a cagar muriendo”, algo em português como “está fodido, vai morrer”.

A produção mostra ainda como Luque — com a ajuda da esposa — falsificou a assinatura de Maradona para obter um prontuário médico (veja no álbum mais abaixo) e, ainda em abril de 2020, buscou orientação judicial para se safar das culpas que cercariam a morte do astro.

O médico respondia diretamente a Matías Morla e Víctor Stinfale, advogados e representantes de Maradona. O trio combinava o teor das declarações à imprensa e à família de Diego. A TV El Trece, segunda maior da Argentina, revelou que a equipe médica recebia 300 mil pesos (R$ 18,6 mil) por mês.

Blog com UOL Esaporte