No Brasil, apenas 7% das cidades têm um time profissional de futeb
   18 de junho de 2020   │     0:03  │  0

A pandemia obrigou o brasileiro a viver sem o futebol. Mas essa já é a realidade de 100 milhões de pessoas, quase metade da população do País, que vivem em cidades sem um time profissional. Pesquisa da consultoria Pluri mostra os 650 times que disputam competições oficiais no Brasil no ano passado estão em apenas 422 dos 5.570 municípios. É apenas 7%. Para dirigentes e especialistas, os dados revelam a concentração do esporte aos grandes centros urbanos e colocam em xeque a expressão “País do futebol”.

O estado de São Paulo mostra as duas faces da moeda. É a unidade com mais clubes, 89 ao todo, mas concentra 40% das cidades acima de 100 mil habitantes que não têm um time profissional. “Proporcionalmente, São Paulo está sub representado. É um Estado que representa cerca de 35% do PIB do Brasil, mas com apenas 14% dos clubes. Existe força econômica e população suficiente para aumentar esse número”, analisa Fernando Ferreira, fundador da Pluri.

Reinaldo Carneiro Bastos, presidente da Federação Paulista, rebate. “Em São Paulo, temos um número extremamente relevante de clubes profissionais. São quatro divisões profissionais e todos os clubes recebem cotas de participação para disputar essas competições, o que é único no país”, afirma o dirigente.

Localizada a 21 quilômetros da capital paulista, Carapicuíba exemplifica os dados da pesquisa. Com uma população de quase 500 mil habitantes, a cidade que se apoia no comércio como principal atividade econômica não seu time. O estádio municipal, com capacidade para cinco mil pessoas, só recebe partidas de futebol amador. A última foi em dezembro do ano passado, muito antes da pandemia. O caseiro José Antônio Vieira Lobo, que trabalha no estádio há 32 anos, sente falta de um time da cidade. “Seria muito bom um time de Carapicuíba. Ia agitar todo mundo”, diz o funcionário da prefeitura de 71 anos.

Todos os dias, seu José Antônio irriga o gramado e cuida do patrimônio para evitar invasões. Ele e a família – mulher, dois filhos e dois netos – moram dentro do estádio. A relação com a arena é tão estreita que ele já teve três enfartes trabalhando, no próprio gramado. Sua vida é ali. “O time mais conhecido da cidade é o Vasco de Carapicuíba, mas o último jogo por aqui foi em dezembro do ano passado, antes da pandemia”, conta.

Venilton César Montini, secretário de Esportes da cidade, explica que o futebol é caro. Por isso, dificilmente o desejo do caseiro será realizado. Pelas contas do secretário, são necessários R$ 60 mil por mês para a disputa da última divisão do futebol paulista. Esse custo deve ser multiplicado por seis por conta da duração dos torneios. “Se existisse uma empresa ou um investidor com boa condição, um time profissional seria muito interessante para a cidade”, diz o secretário.

Estudiosos e dirigentes apontam que esse processo de concentração dos clubes profissionais nos grandes centros urbanos muda a própria relação do País com o futebol. Segundo eles, a expressão “País do futebol” está inadequada. “A ideia que a extinção do clube local fará o torcedor migrar para Flamengo e Corinthians, por exemplo, é fantasiosa. Os jovens criam outras formas de lazer, até virtuais, e perdem o interesse pelo esporte que não vê pessoalmente. Corremos o risco de perder nossa identidade, quando abrimos mão de ter um time próximo, para chamar de seu!”, opina Mauro Carmélio, presidente da Federação Cearense de Futebol.

“Nunca concordei com essa expressão. Em relação à difusão, organização e nível de competições, outros países são tão ou mais intensos que o Brasil”, diz Darcio Genicolo, professor do departamento de Economia da PUC-SP e pesquisador em Economia do Futebol.

Blog com Terra Esportes