Cafu desabafa sobre carência de laterais no Brasil
   18 de janeiro de 2020   │     0:03  │  0

Na próxima Copa do Mundo, em 2022, no Qatar, o atual lateral direito titular da seleção brasileira estará com 39 anos. Mesmo com Daniel Alves já veterano, tem sido difícil para Tite renovar a posição e encontrar um substituto à altura do atleta do São Paulo.

Para Cafu, 49, (foto acima/CBF), dono da posição por muito tempo, esse é o principal reflexo da dificuldade que o país tem de formar novos laterais direitos.

Último brasileiro a levantar a taça de campeão mundial com a seleção e titular do Brasil nos Mundiais de 1998 e 2002, o ex-jogador aponta dois fatores que na sua opinião contribuem para essa situação: novas rotinas de treinos e falta de comprometimento dos atletas.

“Eu fui formado cruzando mais de 150 bolas depois dos treinos. Hoje, os preparadores físicos não deixam mais os atletas fazerem esses trabalhos extras”, disse Cafu à reportagem durante evento em São Paulo no mês de dezembro. “Lateral com a qualidade de um Daniel Alves, Cafu, Carlos Alberto Torres vai ser um pouco difícil formar novamente.”

O ex-atleta, no entanto, não atribui a dificuldade apenas aos preparadores físicos. Para ele, falta atitude dos próprios jogadores. “Na nossa época, tínhamos um comprometimento maior com a camisa que vestíamos”, afirmou.

Cafu acredita que os salários milionários que os principais jogadores do país recebem atualmente estão moldando uma geração mais acomodada.

“Não sou contra jogador ganhar altos salários. O que eu sou contra é o jogador não ter comprometimento baseado naquilo que eles ganham”, disse.

Em 2002, ano em que foi campeão do mundo com o Brasil, o salário de Cafu na Roma era estimado em 2,5 milhões de euros (cerca de R$ 26 milhões em valores atualizados) por ano.

Antes de voltar ao Brasil para defender o São Paulo, o último clube de Daniel Alves na Europa foi o PSG, no qual ele recebia 8,4 milhões de euros por ano (cerca de R$ 37 milhões em valores atualizados).

No time do Morumbi, o lateral tem vencimentos estimados em R$ 1,4 milhão por mês, com um contrato até dezembro de 2022. A esse valor mensal ainda podem ser acrescidos bônus, com gatilhos como conquistas de títulos e prêmios individuais.

Cafu deixou os gramados em 2008. O último clube dele foi o Milan, da Itália, pelo qual conquistou 6 dos 25 títulos de expressão de sua carreira. Pelo São Paulo, ergueu 10 troféus, incluindo o bicampeonato da Libertadores e do Mundial de Clubes (1992 e 1993).

A carreira vitoriosa e o reconhecimento internacional, no entanto, não evitaram que o ex-jogador enfrentasse dificuldades financeiras em seus negócios. Em julho de 2019, o jornal Folha de S.Paulo revelou que ele possui dívidas de várias espécies e perdeu, no Tribunal de Justiça, cinco imóveis em pagamentos para cobrir empréstimos milionários.

Além desses bens, outros 15 imóveis no nome dele e no nome de sua esposa, Regina, estão penhorados por dívidas da Capi-Penta International Player, empresa criada em 2004 para gerenciar a carreira de atletas e que pertence ao casal.

A companhia é cobrada por empréstimos que vão de R$ 1,1 milhão a R$ 6 milhões.

Em dezembro, a Fundação Cafu anunciou o encerramento definitivo de suas atividades. A instituição é cobrada pela Dívida Ativa da União em R$ 857 mil.

Em nota, a fundação explicou que passava por dificuldades havia alguns anos, e que elas se agravaram recentemente. “2018 e 2019 foram muito difíceis, duros. Tanto para a fundação, como para seu idealizador, Cafu, que está enfrentando uma das maiores perdas de sua vida”, dizia o texto, em referência à morte do filho mais velho do ex-jogador, Danilo, em setembro do ano passado.

Na entrevista que concedeu à reportagem, Cafu solicitou que fossem feitas apenas perguntas sobre futebol e sua carreira, evitando falar sobre questões financeiras e a morte de seu filho.

Blog com Folhapress