Gays devem aceitar cultura do Qatar na Copa
   9 de janeiro de 2020   │     0:05  │  0

Hassan Al Thawadi, 41, parece estar pronto para qualquer pergunta. Secretário-geral do Comitê para Execução e Legado do Mundial de 2022, no Qatar, ele não espera nem um segundo para responder a cada questionamento.

Talvez isso aconteça porque ele já tenha ouvido essas perguntas mais de uma vez. As dúvidas sobre a próxima Copa do Mundo continuam as mesmas: direitos humanos, capacidade do país de sediar o megaevento, como a cultura muçulmana vai receber torcidas de 31 países (além da nação sede), como pessoas LGBT serão tratadas.

Advogado formado na Universidade de Sheffield, no Reino Unido, Al Thawadi é conselheiro do emir, o xeque Mohammed bin Hamad Al Thani, e responsável pelo órgão com orçamento de US$ 7 bilhões (R$ 28 bilhões) que terá de entregar oito estádios e dezenas de obras de infraestrutura pra viabilizar o torneio.

No dia 21 de dezembro, horas antes da final do Mundial de Clubes, entre Liverpool (ING) e Flamengo, em Doha, ele recebeu um grupo de sete jornalistas ocidentais.

TORCEDORES GAYS

Al Thawadi afirma que todos os visitantes, a não ser os violentos, serão bem recebidos no Qatar, mas espera que eles também entendam e aceitem os costumes do país.

“Nós trabalhamos muito duro para educar as pessoas sobre a nossa cultura, que é conservadora progressiva. Há uma lista de regras que não são exclusivas do Qatar e são adotadas por uma porção do globo. Nós pedimos aos visitantes que apreciem e respeitem a nossa cultura. Ao mesmo tempo, que aproveitem a hospitalidade que oferecemos. Nem todos partilham dos mesmos valores, temos diferentes estilos de vida e há riqueza nisso. A paixão pelo futebol pode mostrar que podemos nos respeitar, é isso o que pedimos”, afirmou.

“Exibições públicas de afeto, seja entre homem e mulher ou de outros casais, não fazem parte da nossa cultura, e pedimos que as pessoas respeitem isso. Não mostrem isso em público. Não estamos dizendo que não sejam elas mesmas. Mas é importante que tenham mente aberta, que aproveitem o diferente e não foquem o negativo.”

Para o secretário-geral, o torneio deve servir para acabar com estereótipos que as pessoas possam ter a respeito do mundo árabe.

“A Copa do Mundo não é exclusiva de uma região. É um evento de todos, global. E todos têm o desejo de sediá-la e deveriam ter esse direito. Nós queremos fazer isso para o mundo árabe. Não creio que seja bom querer impor uma cultura sobre outra. Vocês viram o que Mohamed Salah conseguiu fazer em Liverpool a respeito da cultura muçulmana? Isso é quebrar estereótipo. É isso o que queremos”, conclui, citando o atacante egípcio que é ídolo da equipe campeã mundial.

Blog com Alex Sabino/FolhaPress