Com mandato até abril, Coronel Nunes é figura decorativa na CBF
   26 de fevereiro de 2019   │     0:03  │  0

Coronel Nunes durante conversas com jornalistas na Copa da Rússia (Luiz Castro/VEJA.com)

À espera da posse oficial de Rogério Caboclo na presidência da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), o que só ocorrerá em 9 de abril, o futebol brasileiro tem hoje um presidente que não preside. Oficialmente no comando desde 15 de dezembro de 2017, o coronel Antônio Carlos Nunes de Lima não tem sido visto na entidade nos últimos meses. Com problemas de saúde e isolado pela cúpula da confederação desde a Copa do Mundo da Rússia, onde cometeu diversas gafes, ele se mantém presidente apenas no papel.

Ex-presidente da federação paraense, Coronel Nunes ocupa o cargo desde que Marco Polo Del Nero foi afastado do futebol acusado de corrupção. Como era o vice mais velho, o cargo lhe caiu no colo, com o aval do ex-chefão. Sua ausência em eventos esportivos, inaugurações ou em reuniões de trabalho se intensificou nos últimos meses.

Um dos motivos é a saúde do coronel de 80 anos, que em novembro passou por uma cirurgia em São Paulo para a retirada de um tumor. Desde então, por orientação médica, ele tem evitado viagens. Retornou para o Rio apenas há duas semanas, tem ido à CBF, mas não participa de decisões importantes.

Aliás, desde que assumiu o posto, o coronel no máximo usou o caneta para assinar despachos do impedido ex-presidente ou de seu sucessor, o atual CEO Caboclo. É figura quase decorativa. Para o presidente da Federação Cearense de Futebol, Mauro Carmelio, a gestão do coronel Nunes foi de transição. “Ele manteve a linha do que vinha sendo realizado. O trabalho dele foi de estabilidade e segurança institucional ao futebol brasileiro”, considerou.

Mas, nas poucas vezes em que procurou demonstrar a autonomia que, em tese, seu cargo oferece, Nunes fez estragos. Em junho do ano passado, votou na candidatura do Marrocos como sede do Mundial de 2026. A CBF havia se comprometido com a Conmebol a apostar em bloco na candidatura tríplice de Estados Unidos, Canadá e México.

Há quem diga que o voto no Marrocos tenha sido orientado por Del Nero, por mera afronta. De qualquer forma, a postura de Nunes irritou a cúpula da Conmebol, que considerou o voto uma traição, e causou abalo na relação da CBF com a entidade e com a própria Fifa.

A partir daí, Nunes passou a ser isolado. Começou a andar sempre monitorado por assessores e secretária e deixou de participar de reuniões decisórias na CBF e na Conmebol. E a renovação de contrato de Tite após o Mundial da Rússia foi toda negociada por Caboclo.

A data da posse oficial do novo presidente foi escolhida a dedo: trata-se da véspera do início do Congresso da Conmebol, que acontecerá no Rio a partir de 10 de abril. Ele, porém, há muito já despacha como mandatário da entidade. É visto em praticamente todos os eventos da CBF. É avesso a entrevistas, mas se demonstra solícito em conversas e é recebido por cartolas do país e do exterior como se já fosse o presidente. Ninguém duvida que seja.

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