Felipão 70 anos: o eterno retorno do treinador que sempre volta para casa
   10 de novembro de 2018   │     0:03  │  0

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Em 12 de setembro de 1984, bateu saudade. Era a primeira vez que Luiz Felipe Scolari, 70 anos completados ontem, morava fora do Brasil. Em Dammam, cidade da Arábia Saudita cravada à beira do Golfo Pérsico, ele sentou-se à mesa e pegou papel e caneta. Começou a escrever:

“Amigo Bagatini e fam.
Anseio que esta te encontre bem tanto quanto os teus familiares. Nós estamos queimadinhos do sol e bem de saúde”.

Na primeira de duas páginas, Felipão descreve ao amigo o que encontrou em terras árabes: zagueiros que não sabem fazer cobertura, goleiros que são “brincadeira, só vendo para acreditar”, um camisa 5 apelidado de “quebra bola” e “um guri de 17 anos que tem noção de cobertura e tudo o mais, mas é fraquinho fisicamente”. Em seguida, pede informações de casa: quer saber como anda o Campeonato Gaúcho.

Nas cartas, antes de colocar a assinatura, Felipão escrevia: “Do amigo de sempre”. Nelas, estavam embutidos dois fundamentos de uma vida que agora completa sete décadas: o apego às raízes e a importância de se sentir querido. Eram ideias que estariam presentes também na carreira que o treinador, muito em breve, rechearia com títulos.

As taças começaram a se acumular na metade dos anos 90. Naqueles tempos, no Rio Grande do Sul, a impressão era de que o Grêmio jamais seria derrotado; que, mesmo se tudo desse errado, Danrlei defenderia, Paulo Nunes tiraria alguma jogada da cartola, Arce encontraria algum cruzamento que Jardel fatalmente transformaria em gol. O Grêmio vencia Gre-Nais jogando melhor, vencia Gre-Nais jogando pior, vencia Gre-Nais com o time reserva; e metia 5 a 0 no Palmeiras da Parmalat; e parava o Flamengo de Romário; e ganhava Copa do Brasil, Libertadores, Recopa, Brasileirão.

O curioso é que Felipão também criou querências no futebol. Uma marca da carreira de Scolari é sempre voltar – como se fosse o treinador do eterno retorno. Ele treinou três vezes o Grêmio, três vezes o Palmeiras, duas vezes a seleção brasileira. Jogou no Juventude e depois retornou como treinador (duas vezes). Jogou no CSA e depois retornou como treinador. Foi três vezes trabalhar no Oriente Médio. Foi duas vezes trabalhar na Ásia. Felipão sempre volta.

Quem conviveu com Felipão vê nisso um caminho de mão dupla: ele gosta de voltar a lugares onde foi feliz, mas só volta porque também ajudou a tornar estes lugares felizes.

Blog com Globoesporte