América volta à elite sem corrigir erros que o fizeram cair quatro vezes em 10 anos
   29 de setembro de 2018   │     0:03  │  0

América está de volta à elite cariocaAmérica está de volta à elite carioca (Foto: Marcos Faria Melo / Divulgação)

Quatro rebaixamentos para a segunda divisão carioca em dez anos são o retrato de um clube tradicional em frangalhos. Mas essa é apenas a mais recente tragédia do América, que no último sábado reconquistou o direito de voltar à elite do Campeonato Estadual após vitória por 2 a 1 sobre o Sampaio Corrêa. A torcida vibrou, mas o que restou dela após mais de três décadas de um ostracismo iniciado em 1986, com a recusa em jogar a Copa União, tem motivos para acreditar que desta vez o destino será diferente do apresentado nos últimos anos?

A cada retorno, a comemoração da torcida é mais tímida. A tristeza é camuflada pelas cores: o rubro da camisa se confunde com o rubor da vergonha pelas quedas, que afastam o público das arquibancadas. Conselheiro do clube, Cadu Belmonte foi cirúrgico na definição do sentimento pós-acesso: “É como quando um parente sai da cadeia. Você fica feliz, mas não abre champanhe”.

Não há evidências de que a trajetória aponte para mais momentos felizes. Fechada há quatro anos na adiada expectativa de transformação em um shopping, a sede da Tijuca virou um emblemático elefante branco, símbolo da perda de relevância e da capacidade de mobilização popular. Sem motivação para se manter presente, o quadro social foi dizimado pela inadimplência e desconecta o clube de sua base geográfica. Sem viabilidade financeira, o América se entregou a um mecenato que ampliou suas dívidas sem que isso criasse qualquer perspectiva de crescimento.

Dificuldade para preservar o patrimônio

Sem financiamento pelo quadro social, por bilheteria, visibilidade para atrair patrocinadores ou recursos de direitos de transmissão, o América insistiu em negligenciar sua fonte de renda mais segura a médio prazo: as divisões de base. A última negociação de atletas formados pelo Diabo foi a venda de Wellington Nem ao Fluminense, em 2013.

Cinco anos sem negociar um jogador é uma eternidade para qualquer clube que se pretenda viável, mas é um destino previsível para um América que não mantém categorias abaixo do sub-17 em competições oficiais. Relegado à captação tardia de talentos, o clube se vê condenado à efetivação de atletas moldados por coirmãos e por eles descartados em alguma etapa do processo formativo.

O tratamento do patrimônio é outro dado que ilustra bem as perspectivas do América. Além da sede fechada, o clube tem um centro de treinamentos semiabandonado em Duque de Caxias e um estádio corroído pela ação do tempo. Inaugurado em 2000, o Giulite Coutinho tem duas arquibancadas com coberturas destruídas por temporais e jamais repostas.

Neste cenário, é difícil um americano permanecer otimista. Dizem que a esperança é a última que morre. Não é bem assim. No América, ela tem matado gerações de torcedores sem que haja qualquer sopro de renovação.

Blog com EXTRA