Como em 98, descendentes de imigrantes recolocam França no topo
   16 de julho de 2018   │     0:04  │  0

Kylian Mbappe comemora o seu gol pela FrançaKylian Mbappe comemora o seu gol pela França (Foto: CHRISTIAN HARTMANN / REUTERS)

Passados 20 anos de seu primeiro título mundial, a seleção francesa de futebol voltou a alcançar a máxima glória do esporte, ontem, ao vencer a Croácia por 4 a 2, no estádio Luzhniki, em Moscou. Mais do que qualquer aspecto tático ou técnico, o resultado simboliza a união de um país que recentemente se acostumou com a polarização referente à crise imigratória no continente europeu.

Dos 23 jogadores convocados pelo técnico Didier Deschamps, apenas sete não são filhos de imigrantes africanos: o goleiro Hugo Lloris, Pavard, Lucas Hernández, Griezmann, Giroud, Thauvin e Alphonse Areóla, de origem filipina. A tolerância às diferenças étnicas foi elementar na campanha bem-sucedida da seleção francesa no Mundial da Rússia, assim como aconteceu em 1998, quando os Bleus conquistaram a Copa pela primeira vez com um time repleto de descendentes de estrangeiros.

“A diversidade do nosso time é a imagem desse belo país que é a França. Para nós, isso é esplêndido. Estamos orgulhosos em representar essa bonita camisa e acho que o povo também está orgulhoso por ter uma seleção como essa”, disse o volante Blaise Matuidi, filho de pai angolano e mão congolesa.

Até mesmo a líder da extrema direita francesa, Marine Le Pen, se rendeu ao grande futebol da seleção francesa nesta Copa do Mundo. A candidata à presidência no ano passado, que tinha como uma de suas propostas frear a imigração legal e ilegal no país, parece ter se esquecido que grande parte do grupo que chegou à decisão do Mundial é composto por filhos de estrangeiros. Através de suas redes sociais, a contraditória presidente do partido Agrupamento Nacional se manifestou após o título sobre a Croácia: “Bravo, seleção francesa! Está feito! Parabéns ao Didier Deschamps e a todos os seus jogadores. Histórico!”.

Kylian Mbappé, principal estrela do time francês, é um dos 16 jogadores que possuem raízes africanas. O jogador, de 19 anos, é filho de uma ex-jogadora de handebol nascida na Argélia e de um pai camaronês. Paul Pogba, que detém o maior apelo comercial entre os atletas da seleção, é outro exemplo. Seus pais nasceram em Guiné, no entanto, o volante preferiu defender o país onde cresceu.

Em 1998, os grandes destaques da seleção que venceu a Copa do Mundo sediando o torneio também eram filhos de imigrantes. Lilian Thuram, que fez os dois gols na semifinal contra a Croácia, em Saint-Denis, é filho de mãe solteira nascida em Guadalupe, uma ilha no Caribe pertencente à França; Youri Djrokaeff é filho de mãe armênia; Zinedine Zidane tem origens argelinas; Já Marcel Desailly possui raízes em Gana.

Thuram, inclusive, foi além. Após se consagrar nos gramados com o título mundial e da Eurocopa de 2000, o zagueiro hoje é líder de uma fundação que leva o seu nome e que tem como objetivo combater o racismo no país através da educação a crianças de baixa renda, muitas delas descendentes de imigrantes.

Enquanto alguns trabalharam para integrar a sociedade francesa, líderes políticos se esforçam para se estabelecerem com pensamentos completamente retrógrados. Por ora, a atual geração de jogadores da França se limita a fazer sua parte dentro dos gramados, contudo, já é possível dizer que a taça erguida em Moscou vai muito além da glória futebolística. Simboliza a inclusão que deveria ser adotada por todo um povo.

Blog com Gazeta Press