Fugindo do preconceito, mulheres criam espaços para discutir futebol
   19 de setembro de 2017   │     0:03  │  0

SÃO PAULO, SP, BRASIL, 30-08-2017: Nayara Perone, 30, camiseta corinthians preta; Roberta Nina, 34, camiseta azul Brasil; Renata Mendonça, 28, camiseta amarela Brasil; Angélica Souza, 33, camiseta palmeiras. Sem espaço nas rodinhas masculinas, mulheres passaram a criar seus próprios sites e páginas nas redes sociais para discutir futebol. Publicam notícias, entrevistas, textos de opinião e vídeos sobre o esporte: modalidades feminina e masculina, campeonatos nacionais e internacionais, futsal e campo, seleções e times amadores. O â€Dibradoras†é um deles. Já recebe mais de 40 mil visualizações por mês e organiza eventos esporádicos para reunir torcedoras. (Foto: Avener Prado/Folhapress, COTIDIANO) Código do Fotógrafo: 20516 ***EXCLUSIVO FOLHA***
O Dibradoras recebe mais de 40 mil visualizações por mês e organiza eventos para reunir torcedoras

“Se você gosta tanto de futebol, o que é impedimento?” “Qual era a escalação do seu time em 1956?” “Você só fala disso para arrumar namorado.” “Precisa vir com as pernas de fora no estádio?” “Com certeza é lésbica.”

Cansadas de ouvir comentários como esses nas rodinhas masculinas, mulheres que acompanham e entendem de futebol têm criado seus próprios espaços para discutir o esporte.

São cada vez mais comuns sites independentes e páginas nas redes sociais com artigos de opinião, crônicas, vídeos e entrevistas produzidos por e para torcedoras -advogadas, jornalistas, assistentes sociais, estudantes.

É o caso do Futebol por Elas, um dos maiores projetos do tipo. Em pouco menos de um ano, conquistou 168 mil seguidores no Facebook (um quarto deles homens) e uma média de 21 mil visitantes únicos por mês.

“É muito ruim ter de ouvir que você não é capaz de falar sobre um assunto porque você é mulher. Termos voz mostra que outras torcedoras também podem ter”, diz a gaúcha Kaliandra Dias, 23, uma das fundadoras.

De sua casa em Carazinho (a 300 km de Porto Alegre), ela é uma das que coordena as 35 colaboradoras voluntárias do site, à distância. Elas estão espalhadas por todas as regiões do Brasil, e muitas ainda são estudantes.

“Homens já nos mandaram e-mail perguntando se podiam participar para fazer ‘revisão’ porque ‘vai que passa algum erro'”, conta Kaliandra. “Mas a maioria dos comentários é positiva. Uma vez um cara disse que fizemos ele repensar sua opinião machista sobre mulheres que falam de futebol.”

O Futebol por Elas tem como carro-chefe as “crônicas com sentimento”, publicadas após jogos de campeonatos estaduais, Copa do Nordeste, Copa do Brasil, Libertadores e campeonatos europeus, sempre masculinos.

Além das discussões virtuais, passaram a ser mais frequentes encontros presenciais entre as amantes do esporte. Em junho deste ano, por exemplo, mais de 300 torcedoras se reuniram no Museu do Futebol, no estádio do Pacaembu, para o 1º Encontro Nacional de Mulheres de Arquibancada.

Na plateia, estava a jornalista Roberta Cardoso, 34, uma das quatro fundadoras de outro site, o Dibradoras. Há quase dois anos, elas contam a história de atletas, treinadoras, árbitras e dirigentes esportivas por meio de entrevistas em podcasts semanais.

Já participaram a treinadora da seleção brasileira, Emily Lima, a meio-campista Formiga e a atacante Cristiane. Para Roberta, muitas meninas começaram a acompanhar o feminino na Olimpíada de 2016, por causa do bom desempenho da seleção. “Muitas falaram: ‘Descobri porque não gostava de futebol, ninguém falava sobre isso comigo’.”

O nome do Dibradoras vem de experiências próprias. “Toda mulher que gosta de futebol já nasce uma ‘dibradora’, tendo que driblar o machismo e as dificuldades”, explica. “Costumamos dizer que seguiremos ‘dibrando’.”

Blog com FOLHA DE SÃO PAULO