Lembra dela, Aranha? Depois de seis meses, torcedora que chamou goleiro de macaco ainda precisa andar disfarçada
   9 de março de 2015   │     0:07  │  0

Patrícia Moreira

Foi do período colonial até o final do Império que os negros sofreram com a escravidão no Brasil. Ela só foi abolida oficialmente do Brasil no dia 13 de maio de 1888, com a Lei Áurea, assinada pela Princesa Isabel. A escravidão foi abolida, mas ela ainda existe até os dias atuais, na chamada “escravidão moderna”.

Independente do fim das senzalas, dos senhores de terra e dos negros escravos, o preconceito racial nunca deixou de existir no Brasil e no mundo. Até hoje, século XXI, os negros ainda pagam caro por ter conseguido a liberdade. A diferença é que hoje existe a internet e uma parte da população com bom senso para entender o que é certo ou errado, e que ser negro não tem nada a ver com isso.

No dia 28 de agosto de 2014, Patrícia Moreira, branca, vestiu sua camisa do Grêmio e foi até o estádio assistir ao jogo entre seu clube e o Santos, válido pela Copa do Brasil. O goleiro Aranha, negro, que antes defendia o Santos e hoje está no Palmeiras, começou a se sentir incomodado com alguns torcedores fazendo sons estranhos, como de macaco, para tentar atingi-lo. Avisou o árbitro, mas havia muitos torcedores atrás do gol do arqueiro. Havia muitos negros e brancos.

Diferente do período colonial e imperial, no século atual temos a tecnologia ao nosso dispor. E foi em um desses momentos tecnológicos que a câmera de um canal de televisão flagrou Patrícia Moreira no exato momento em que ela gritava a palavra “macaco” para o goleiro Aranha, que é um ser humano.

Desmoronou o mundo da torcedora. Patrícia perdeu emprego, foi indiciada por injúria racial, chorou frente às câmeras, mas não comoveu muita gente. Aranha não perdoou a torcedora. Patrícia teve sua casa incendiada, passou a sofrer ameaça por telefone e também perseguição nas redes sociais e precisou se isolar do mundo. Como um negro na senzala, Patrícia sentou no quanto do quarto e ficou aguardando dias melhores.

Seis meses depois, a torcedora arrumou um novo emprego, mas precisou mudar toda sua aparência. A palavra macaco custou mais caro do que nunca.

“Ela mudou a aparência, mexeu no cabelo e de vez em quando usa gorro para se disfarçar, quando não está tão calor. Quer manter o anonimato e evitar qualquer xingamento ou agressões. As semanas variam entre evoluções e quedas, com todos os sintomas de uma pessoa depressiva, de altos e baixos”, disse Alexandre Rossatto, advogado da torcedora.

Logo cedo, Patrícia ajeita seu novo corte de cabelo, pega o ônibus, vai para o trabalho, trabalha durante oito horas e retorna para seu exílio. Nada de amigos, nada de festa, nada de redes sociais. “A Patrícia não tem feito nada, tem ficado só em casa, no canto dela. Os irmãos a pegam no fim de semana para não ficar tão presa. Mas ela quer ficar quieta. Trocou telefone, não tem rede social e só agora retomou o contato com alguns amigos”, defendeu o advogado.

“Ela tenta refazer a vida, está em um trabalho inferior ao anterior, mas é uma recolocação. Não é mais ameaçada, mas ficou tachada de racista. No ônibus, as pessoas a reconheceram, apontaram, mas como pega sempre o mesmo, já nem falam mais”, contou o advogado.

 

Blog com FutNet