Do altar para a quadra de handebol
   26 de novembro de 2014   │     0:05  │  0

Amor ao handebol faz padre André troca a batina pelo uniforme do Recife Masters uma vez por semana /

Amor ao handebol faz padre André troca a batina pelo uniforme do Recife Masters uma vez por semana

Nas manhãs de sábado, na quadra do Clube Português, a batina branca é trocada pelo uniforme laranja, daqueles bem chamativos. A Bíblia é deixada de lado por algumas horas, cedendo lugar à bolinha de couro com 60 centímetros de diâmetro e não mais do que 500 gramas de peso. Em vez de orações, gritos com a defesa. O padre André dos Santos Vicente, do Mosteiro de São Bento, em Olinda, se transforma no goleiro da equipe de handebol Recife Masters, formada exclusivamente por atletas pernambucanos com mais de 35 anos.

Padre André é um veterano nas quadras. Iniciou no handebol ainda garoto, com cerca de 14 anos, nas equipes do Geraldão e do Santos Dumont. Aos 45, só lembra de ter se afastado da modalidade no período em que esteve confinado no Mosteiro de São Bento, entre 1992 e 1995. A formação eclesiástica nunca foi um empecilho para que atuasse como goleiro, apesar de reconhecer que alguns fieis ainda acham estranho o fato de um sacerdote ter uma atividade esportiva.

“O esporte é uma coisa boa, que traz benefícios ao corpo e à mente. Ao entrar em quadra, não estou infringindo o código da Igreja e nem estou fazendo nenhuma ação que prejudique o próximo. Por isso, sinto-me à vontade com o handebol”, comenta Padre André. “Eu achei que quando os fieis ficassem sabendo ficariam chocados. É verdade que alguns estranharam, mas a recepção no geral foi muito boa. Isso prova que para ser religioso não é preciso abdicar de tudo”, completa.

Engana-se quem pensa que a paixão do padre André pelos esportes se limita ao handebol. Torcedor do Náutico, costuma acompanhar não só partidas de futebol como de vôlei e basquete, além das corridas de Fórmula 1. Essa afeição fez com que fosse escolhido por seus superiores no mosteiro para cursar educação física. Formado em 2007, pela Universo, passou a dar aulas no Colégio de São Bento, também em Olinda. “É muito bom ter a chance de repassar meus conhecimentos na área esportiva às crianças”, diz.

Com a camisa 1 do Recife Masters, o padre André se transforma. Em vez da fala pausada e mansa do dia a dia, gritos enérgicos com a defesa. “Mas nada de palavrões. Reclamo, oriento, mas sem baixar o nível”, garante, aos risos. É mesmo preciso manter todos atentos com a marcação, até porque os adversários não têm piedade do sacerdote e disparam contra ele verdadeiras bombas à queima-roupa. “E vou na bola mesmo. Dizem que sou doido, meio maluco, e que não tenho amor à vida. Mas minha função ali é defender e dou o meu melhor na barra”, afirma.

Se os adversários são impiedosos, o mesmo não se pode dizer da arbitragem. Padre André perdeu as contas de quantas vezes antes das partidas é abordado de forma discreta por um árbitro ou outro que lhe pede a bênção. “Depois disso fica mais difícil para eles puxarem minhas orelhas nos jogos. É uma estratégia abençoada para ganhar a arbitragem”, conta.

 

Blog com JC Online