Roberto Dinamite na fogueira do Vasco da Gama
   15 de janeiro de 2013   │     0:04  │  0

Roberto Dinamite: no olho do furacão da crise financeira em São Januário

 

Enfrentando arrocho financeiro, rebelião de jogadores e o desmanche do time, o maior artilheiro da história do Vasco se transforma em cartola odiado na Colina.

Quem viu Roberto Dinamite matar a bola no peito, pentear a cabeleira do botafoguense Osmar Guarnelli com um lençol escrupuloso e emendar o voleio para estufar as redes do Maracanã inevitavelmente o define como uma espécie de Pelé do Vasco da Gama. No imaginário de quem enverga a cruz de malta do lado esquerdo do peito, Roberto representa mais que um Pelé. É o mito. Ou pelo menos era, até explodir a crise mais aguda de sua gestão como presidente.

Uma vertiginosa escalada de penhoras judiciais deteriorou as finanças do clube no fim de 2012. A dívida bruta, que já ultrapassa a casa dos 400 milhões de reais e é uma das que mais crescem entre os clubes brasileiros, compromete novas receitas e alimenta um ciclo vicioso. O patrocínio de 14 milhões de reais por ano da Eletrobras nunca pingou regularmente na conta cruzmaltina. Sem as certidões negativas de débito, a estatal retém o repasse da grana.

Desfalcado da verba de seu patrocinador principal, o Vasco chegou em dezembro ao ápice dos atrasos de salário, corriqueiros ao longo da temporada. Há três meses sem receber, referências do time, como o goleiro Fernando Prass, o volante Nilton, o atacante Alecsandro, Felipe e até o ídolo Juninho Pernambucano, debandaram.

No meio do ano, o desmantelamento da equipe, que perdeu Diego Souza, Fágner e Romulo, fez a nau vascaína despencar no Brasileiro. A vaga na Libertadores foi para o brejo, e não há garantia de que os jogadores que sobraram, incluindo Dedé, o guardião da defesa, irão permanecer em 2013.

A nuvem de interrogações derrama uma tempestade de descrédito e prostração sobre o Gigante da Colina, cada vez mais encolhido. A volta de Ricardo Gomes, que tirou a equipe de atoleiro semelhante dois anos atrás, é o único alento, mas, dessa vez, será bem mais árduo salvar a lavoura seca.

Quando ascendeu à presidência em 2008, cinco meses antes de o time cair para a segunda divisão, Roberto visava estancar sangrias da era de gastança e megalomania legada por Eurico Miranda, e reabrir as portas que lhe foram fechadas por mais de uma década. Hoje, ele pode até circular pelas sociais de São Januário. Porém, dificilmente voltará a ser o ídolo que já foi. A armadura de herói deu lugar à carapuça de vilão.